Se for rebaixado, Santos pode ter a pior temporada de um clube brasileiro com tantas notícias ruins
O ano começou com o maior luto santista, afinal o Rei Pelé foi sepultado nos primeiros dias de 2023. Ao longo do ano, o caso de estupro de Robinho, outro ídolo histórico do Peixe, foi ainda mais escancarado e ele, condenado na Itália, poderá ser preso mesmo estando no Brasil. Neymar, mais um genial raio que caiu na Vila Belmiro, parece cada vez mais longe de ganhar a tão sonhada Bola de Ouro e continua aparecendo no noticiário com situações nada agradáveis, como traição à mulher grávida na véspera do Dia dos Namorados e multas por questão ambiental em seu palacete em Mangaratiba. O orgulho santista nunca esteve tão abalado, pois pelo terceiro ano seguido o time não se classificou para o mata-mata do Campeonato Paulista e mais uma vez corre risco de rebaixamento no Brasileiro, algo que seria inédito para o clube.
Há um pensamento de que o atual presidente do
Santos, Andrés Rueda, é até um bom administrador na parte financeira, mas que
ele pouco entende de bola. O departamento de futebol do clube foi entregue em
boa parte a um craque que não tem ligação com o Santos, o ex-volante Falcão,
que não emplacou como se esperava como técnico nem como dirigente. Sua atuação
até aqui tem sido opaca, pouco acrescentando a um time com elenco limitado e que
parece um tanto quanto perdido, sem comando. Paulo Tura, um treinador em início
de carreira solo, chegou para colocar ordem, mas parece que isso estragou ainda
mais o ambiente no vestiário. A saída de Soteldo, uma rara reserva técnica que
o Santos tinha neste ano, foi o grande exemplo disso. O pequeno venezuelano é
mais um nome adorado pela torcida que vive um 2023 ruim.
Falcão, que teve cinco dias de folga no Sul para curtir o aniversário da esposa e que foi flagrado vendo a final de Wimbledon
entre Alcaraz e Djokovic (não posso culpa-lo muito por isso porque o jogo foi
épico, e acho que Alcaraz vai ser o maior tebnista da história um dia) no Morumbi
pouco antes do clássico San-São, passou a ser criticado ainda mais internamente
pelo que seria um descaso com a fase negativa da equipe, que venceu apenas um dos
últimos 15 jogos da equipe (um 4 a 3 sofrido na Vila contra o Goiás em que o
árbitro anotou um pênalti muito polêmico para o alvinegro). A vitória anterior
da equipe, contra o Vasco em São Januário, também teve muita reclamação do adversário
com a arbitragem. Isso mostra a dificuldade que o Santos vem encontrando para
superar até mesmo times da parte inferior da tabela, com quem em tese e na
prática está brigando de fato contra o descenso.
A torcida santista, desesperada com a possibilidade real de um primeiro rebaixamento, tem passado do ponto em atos violentos e protestos com arremesso de bombas e objetos. O cenário terrível fez com que a Vila Belmiro fosse justamente punida, e o alçapão alvinegro foi decisivo muitas vezes para que times fracos do Santos superassem equipes mais poderosas e impedissem uma queda para a segunda divisão. Estamos vendo um Brasileiro que tem tudo para bater recorde de público na era dos pontos corridos, mas o Santos está quase sozinho sem a torcida do seu lado. E, quando ela está presente, em pouco número ou não, a pressão tem sido a tônica nas arquibancadas. A nova geração dos Meninos da Vila não é das melhores, e o que seria o último raio (Rodrygo) partiu cedo para o Real Madrid e pouco foi aproveitado pelo Santos, diferentemente de Pelé, de Robinho e de Neymar.
O possível título brasileiro do Botafogo,
algo mais inesperado do que um rebaixamento do Santos em 2023, jogaria ainda
mais luzes nas SAFs, nova onda do futebol brasileiro. O lendário time de Pelé
está concorrendo mesmo agora com empresas, e está ficando para trás de várias delas
(foi eliminado da Copa do Brasil pelo Bahia, parceiro do Grupo City, por
exemplo). Quase todos os adversários estão se organizando melhor, estão
recebendo mais investimento, estão contando com mais apoio nas arquibancadas,
estão vendo mais perspectivas do que o Santos. Na Copa Sul-Americana, a
campanha santista foi de envergonhar a tradição internacional do clube. Apenas
uma vitória em seis jogos, não conseguiu vencer na Vila Belmiro nem o bom
Newell’s Old Boys nem o mediano Audax Italiano nem o fraco Blooming. Terminou
com saldo de gols negativo e fora até mesmo do playoff contra um terceiro colocado
de grupo da Libertadores. Eliminado assim precocemente de todas as copas da
temporada, o caixa santista fica ainda mais combalido. E, por mais que Falcão
acredite que chegarão reforços de bom nível para elevar a qualidade do elenco,
a torcida não confia na direção. A frase de Falcão sobre descenso foi de cair o
olho da cara: “Não existe a palavra rebaixamento para mim. Se a gente conseguir
trazer os jogadores que a gente imagina, é pensar em Libertadores.” Falta de
noção da realidade.
No próximo fim de semana, o Santos recebe simplesmente
o líder disparado do Campeonato Brasileiro, uma equipe que venceu 13 de 15
jogos na disputa. Depois, até o final do primeiro turno, pega dois times da
Libertadores (Fluminense e Athletico) e outro que faz uma das melhores campanhas
da Sul-Americana (Fortaleza). Não é difícil imaginar que o Santos terminará a
primeira metade da competição nacional com apenas quatro vitórias, com menos de
20 pontos e com saldo de gols bem desfavorável, ainda mais após ser goleado por
4 a 1 pelo São Paulo. O Corinthians tem um ponto a menos do que o Santos hoje,
mas tem um jogo a menos também e está dando sinais de melhora, com a recuperação
de Renato Augusto, com o aparecimento do bom volante Moscardo e com a contratação
interessante de Rojas. América-MG e Vasco, que estão na zona da degola
atualmente, também possuem uma partida a menos em relação ao Santos. O
Coritiba, que parecia já condenado, melhorou bem após a saída do técnico Antônio
Carlos Zago e também anima agora seu torcedor. No Santos, nada anima.
Lucas Pires e Nathan foram afastados após
serem flagrados em balada até altas horas da madrugada quando tinham treino
pela manhã. Ângelo, que poderia ser uma esperança, foi vendido para o Chelsea.
A situação de atletas como Daniel Ruiz, Ed Carlos e Lucas Barbosa está
indefinida no clube. Nem o bom goleiro João Paulo está salvando mais. Há uma tensão na Vila de que um “facão” poderá gerar a
dispensa de vários jogadores e existe também uma certa resistência ao pulso
forte de Paulo Turra, que não tem a habilidade ainda no vestiário nem o perfil “amigão”
de Dorival Júnior, técnico que deixou saudade nos santistas e que hoje mostra
seu valor ao recuperar o São Paulo. Com a falta de química entre atletas, comissão
técnica, direção e torcida, a tendência é de um trabalho bastante complicado. A
atuação apática do Santos no clássico contra o São Paulo, que parecia treinar
em campo, chamou a atenção do tamanho do buraco em que o Santos se colocou. Há
quem diga que, se o Santos não cair neste ano, não cairá nunca mais. Mas os
mais pessimistas entendem que o primeiro rebaixamento da história gloriosa do
time de Pelé está próximo e é inevitável pela falta de dinheiro, organização e visibilidade
em comparação aos rivais.
Será que o seleto clube dos “incaíveis” do
futebol brasileiro, que tem apenas Flamengo, Santos e São Paulo, vai perder um
de seus membros neste ano? O Flamengo não cairá, o São Paulo parece ter achado
um bom caminho, só o Santos agora preocupa mesmo. Caso esse rebaixamento
santista se confirme, será, claro, o pior ano da história do Santos. Aliás
talvez seja o pior ano de qualquer clube brasileiro de grande expressão. Do Rei
Pelé a Robinho, passando por Neymar e Soteldo, o Santos, fundado no mesmo dia
em que o Titanic naufragou, parece hoje um submarino pouco confiável que está
perto de implodir no fundo do oceano.
Se for rebaixado, Santos pode ter a pior temporada de um clube brasileiro com tantas notícias ruins
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