Renato Gaúcho, Abel Ferreira e o uso desonesto dos resultados
A noite de quarta-feira, marcada pelas derrotas de Grêmio e Palmeiras na Libertadores e Recopa, respectivamente, não foi ruim para o futebol brasileiro somente pelos resultados. Ela serviu também para escancarar, sobretudo na relação com os treinadores, o nocivo resultadismo que parece a cada dia mais impregnar enorme parte das ações dos que trabalham nas mais diversas áreas dentro da enguiçada engrenagem do futebol no país.
O caso de Renato Gaúcho é mais relevante porque põe em xeque a própria permanência do treinador no comando do Grêmio. Não que não haja motivos para isso: discutir se Renato merece ou não estar no cargo que ocupa já faz sentido há algum tempo por muitas de suas escolhas, posturas e decisões nos últimos dois dos quase cinco anos em que ele treina o clube gaúcho.
Só que essa discussão foi feita há pouquíssimo tempo pelo Grêmio, e a conclusão da diretoria, como se viu no anúncio de renovação há pouco mais de um mês, foi pela permanência de Renato. Imagina-se que tenha sido uma decisão bem debatida e pensada. Resolver trocá-lo agora, como indicou poder fazer o vice-presidente do clube após a queda na Libertadores, seria ceder a pressões com base em uma coisa apenas, a eliminação de ontem.
Porque se há motivos para substituir Renato eles certamente não apareceram e tampouco se destacaram nos confrontos contra o ótimo time do Independiente del Valle – nos quais, diga-se, primeiro o Grêmio foi bastante prejudicado pela arbitragem e depois teve uma boa atuação, como há muito tempo não mostrava, pelo menos enquanto as equipes estavam em igualdade de atletas em campo.
Já o caso da Abel Ferreira não envolve dirigentes e, claro, qualquer ameaça ao seu bom trabalho. Mas impressiona como duas atuações tão distintas do Palmeiras, uma digna de elogios na Supercopa e outra passível de críticas na Recopa, são de repente colocadas por parte da imprensa num mesmo balaio, o das “derrotas em finais”, para justificar teses e certezas que surgem e se sustentam baseadas somente em preferências pessoais e estratégias de repercussão. Ou alguém duvida que, com uma só vitória nos pênaltis, o que em nada teria alterado o nível de futebol nos 210 minutos jogados, o grau de inconformismo, cobrança e críticas mudaria completamente?
A velocidade com a qual se muda do elogio à crítica (e vice-versa) na crítica esportiva brasileira é provavelmente caso único no mundo. Sob o pretexto do “elogiei quando tinha que elogiar e critiquei quando tinha que criticar” surge uma conveniente auto permissão para que se mude repentina e completamente o teor e o tom das críticas e avaliações. Sempre de acordo com os resultados, às vezes em questão de horas.
Há nesse comportamento clara submissão a uma espécie de ditadura da contundência, hoje muito desejada não apenas por torcedores como por empregadores (em certos casos os próprios torcedores) ávidos por uma boa manchete. Passar pelo crivo das redes sociais (“não vai passar o pano, hein?”) e dar audiência são coisas que passaram a requerer contundência, mesmo que ela não faça sentido.
E assim seguimos. Olhando os resultados e agindo apenas em torno deles. Seja para renovar um contrato, demitir um técnico, elogiá-lo ou criticá-lo. Pensando pouco, mas com contundência.
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