Melhor time feminino do mundo; a que se deve o sucesso da Atos e das alunas de Angélica Galvão?
Além dos títulos individuais por atleta, que são muito cobiçados no Campeonato Mundial da IBJJF, o final do torneio é marcado pela premiação dos títulos por equipe. No ano passado, a Atos conseguiu vencer o bicampeonato derrubando a hegemonia da Alliance pelo segundo ano consecutivo. Este ano, a equipe liderada por Fábio Gurgel voltou a vencer e somou o 12° título, deixando o time de André Galvão em segundo. Mas isso tudo no adulto masculino.
Porém, algo inédito aconteceu: a Atos venceu por equipes no adulto feminino. É a primeira vez que o time das mulheres, liderado por Angélica Galvão, fica no topo do Mundial. Em 2018, a equipe terminou em 6°, com 22 pontos. A Alliance e a Gracie Humaita, que brigaram pelo primeiro lugar algumas vezes, acabaram ficando para trás para o Angelica's Army (Exército da Angélica, como 'apelidaram' suas alunas) levar o título para San Diego.
Nos primeiros dias de competição, a equipe disparou na liderança. Na faixa azul, destaque para Iasmin Casser, aluna de Guilherme e Rafael Mendes, da AOJ, que venceu ouro na categoria e no absoluto e ainda foi 'presenteada' com sua faixa roxa. No peso pluma, Adriana Gamarra também somou pontos e faturou o bronze.
Na faixa roxa, destaque para a campeã Jessa Khan, também aluna dos irmãos Mendes e que tem sido, sem dúvidas, um dos maiores nomes do jiu-jitsu feminino da atualidade. Ela também beliscou o bronze no absoluto. Destaque também para Heather Morgan e Crystal Gaxiola que, além do título na faixa roxa, receberam a faixa marrom no pódio.
Na faixa marrom, alguns pontos a mais: Rafaela Guedes faturou o ouro na faixa marrom pesado e o bronze no absoluto. Quem também colaborou com pontos foi Emily Alves, que levou bronze na faixa marrom meio pesado e dividiu o terceiro lugar do absoluto com a Rafa.
Na faixa preta, Nina Moura, Nikki Cuddle e Luiza Monteiro estavam na briga. Nina e Nikki acabaram fora do pódio. Luiza, que era uma das favoritas ao título, ficou nas quartas de final do absoluto, sendo derrotada por Ana Carolina Vieira (GFTeam) e chegou na final da categoria meio pesado, mas ficou com a prata após ser finalizada por Andressa Cintra (Gracie Barra).
Bianca Basílio também era uma esperança de título. A atleta da Almeida, que luta os campeonatos da IBJJF pela Atos, fez a final do peso pena contra Ana Schmitt (Nova União) e terminou a luta empatada. Na decisão, Ana levou a melhor.
A GF Team até chegou a encostar, mas acabou em segundo lugar com 66 pontos. A Atos terminou com 71 e em terceiro, a CheckMat com 36.
Mas a que se deve o sucesso do time feminino da Atos? "A excelência está em oferecer o que minha cliente veio buscar. Isso faz toda diferença", me contou Angélica, que também falou um pouco mais sobre a turma feminina :)
AULA PARA MULHERES
Há 5 anos, Angélica tem dado aula só para mulheres. "As aulas femininas na Atos começaram quando eu fui graduada a faixa preta. Como a maioria das coisas na minha vida, o André sempre me desafiou a ir além. Eu confesso que não tinha muito interesse em dar aula, nunca tinha dado aula até então. O programa começou pequeno, o número de alunas ficava numa média de 8-10 meninas", disse a professora. Duas vezes na semana, um dos tatames da Atos é disponibilizado para elas. É uma aula que mistura o básico com o avançado, algo que possibilita que entrem novas alunas e que as mais antigas, também aprendam e contribuam com a classe.
Para a professora, treinar com mulheres traz uma realidade diferente e ela defende: "Peso, tamanho e força tem influência sim, se não tivesse, não existiriam divisões feminino e masculino, divisões de peso e nível de faixa. É um grande benefício ter um grupo bom de meninas para treinar". Mas apesar de defender o treino feminino, ela também acha importante encorajar as mulheres a treinarem nas aulas mistas.
"A mulher sem background no esporte pode se sentir intimidada dependendo do ambiente. Meu foco é apresentar o jiu-jitsu de uma forma saudável, interessante, eficiente, e com um toque desafiador. Com o tempo eu encorajo todas elas a participarem das aulas normais na academia", completou.
Para Angélica, o fato de ser faixa preta e dividir a liderança da academia com André, também ajuda muito a ter novas alunas. "O fato de eu ser dona da academia, ser mulher faixa preta acaba ajudando bastante, pois eu sei a necessidade de uma mulher dentro da academia. Então acabo aplicando isso no time", disse.
Ela também acredita que o respeito que há entre ela e o André, é algo que acaba refletindo dentro do grupo, tornando o ambiente familiar, agrádavel e seguro. "Sempre me coloco como cliente e crítica. Analiso e me pergunto se eu gostaria daquele lugar se entrasse ali pela primeira vez, se eu me sentiria à vontade para deixar minha filha de 12 anos fazendo uma aula ali e sair para tomar um café. Esse é meu foco", disse.
O DIA EM QUE ELAS CONQUISTARAM O TATAME PRINCIPAL
O que começou pequeno, tomou uma proporção gigante. Algumas semanas antes do Mundial, Angélica publicou uma foto e comemorou um recorde: 43 alunas.
A academia tem dois tatames a disposição, sendo um maior e principal e o outro, um pouco menor, que é onde acontece a aula das mulheres. Durante a aula das mulheres, acontece simultaneamente no tatame principal, o treino sem kimono, liderado pelo professor André. Neste dia, elas tomaram conta do tatame maior.
"Ele [André] dá bastante suporte e atenção para o feminino. Então a gente sempre brincava que eu ia tomar o tatame grande. Aí esses dias, éramos em 43 meninas. Ele olhou e falou: 'pode usar meu tatame'. Foi uma honra", relembrou a professora.
Angélica também contou que para ela, o que mudou de cinco anos para cá foi o número de alunas e o fato de hoje em dia, poder contar com uma assistente para ajudá-la nas aulas. E, para quem acha que é difícil iniciar uma turma: acertou!
"Eu sempre dei meu melhor, mesmo quando ainda éramos em menos meninas. Já teve aula com 3 meninas apenas, mas eu sempre fiz com excelência, como se tivéssemos 100 meninas no tatame. Ainda contamos com 2 aulas semanais. Hoje tenho uma assistente em todas as aulas, pois são muitas meninas, e temos do nível inicial ao avançado. São meninas com metas e objetivos diferentes. Umas buscam competição, outras perda de peso, defesa pessoal, melhora da saúde, auto estima. Embora o jiu-jítsu seja o mesmo, isso precisa ser apresentados de maneira diferente", disse.
Angélica e André têm uma filha de 12 anos, Sarah, que é faixa cinza e preta e medalhista de prata no Pan-Americano.
O SENTIMENTO DO TÍTULO
Pela primeira vez, a Atos levou o título da divisão feminina. Professora Angélica disse não levar o título como algo dela, e também disse que há muitas alunas, atletas e não atletas de outras filiais competindo pela Atos também.
"O título é da equipe. Sem bons líderes, que valorizam e incluem o jiu-jitsu feminino, não teríamos alcançado", disse.
Angélica reconhece seu empenho para fazer a equipe crescer, mas não deixa de citar: "Eu represento de uma certa forma o jiu-jitsu feminino na Atos. Sei que abri portas e de certa forma, tenho minha contribução para o esporte, mas sem todo grupo, nada disso seria possível".
A professora e líder da equipe, já contou anteriormente que optou por abrir mão da carreira de atleta para se focar na academia e, embora tenha conquistado títulos mundiais na faixa roxa e marrom, não conquistou na preta, mas atrela isto a algo maior, e finaliza:
"Me sinto honrada e realizada. O título mundial de kimono na preta é algo que não pude conquistar, mas faço da vitória de cada uma delas, a minha vitória e o meu título mundial".
Que todas tenham fôlego para continuar levando a Atos para frente e que este, seja só o começo!
Melhor time feminino do mundo; a que se deve o sucesso da Atos e das alunas de Angélica Galvão?
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