Seleção brasileira tem ótimo início nas eliminatórias e muitas avaliações pela frente
Duas rodadas, 100% de aproveitamento. Nove gols marcados, dois sofridos, 16 jogadores utilizados. A seleção brasileira começou as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 com vitórias sobre Bolívia (5x0), em casa, e Peru (4x2), fora. Ótimo início, com muito a ser analisado.
Trata-se de período único na história moderna. A pandemia de coronavírus afetou nosso movo de vida e, naturalmente, o futebol. Não há público nas arquibancadas, o calendário foi alterado e os cuidados sanitários são extremos. A competição, que começaria em março, teve início apenas agora e vai terminar em março de 2022, não mais no final de 2021.
O planejamento da comissão técnica também foi alterado. O tempo é menor até o Mundial, o que resultará em menos observações consequentemente. A manutenção do número de jogos pelas eliminatórias, assim como a Copa América alterada para junho e julho de 2021, vai impor um calendário apertado de jogos oficiais, com pouco espaço para testes mais duros, bastante necessários e cada vez mais difíceis de serem agendados contra times europeus.
Diante de bolivianos e peruanos, Tite apresentou nova variação tática. Ciente da necessidade de melhor desempenho contra adversários bem fechados, a comissão técnica montou o time em variação ofensiva de 3-2-5 para 2-3-5. O conceito principal dessa equipe é ter a posse de bola e pressionar o adversário. Esse é o padrão. Quando perde a bola, pressão alta e rápida para recuperar o controle do jogo.
Nessa construção ofensiva, contra times de linhas baixas de marcação, Marquinhos e Thiago Silva se posicionam com Danilo, Casemiro e Douglas Luiz à frente. Ora o lateral da Juventus recua na saída de bola, ora o meio-campista do Real Madrid. Nestas funções, Tite consegue extrair o melhor deles, já que Danilo não é um lateral ofensivo e Casemiro consegue manter, praticamente, a mesma função que exerce no Real Madrid.
Douglas Luiz foi a grande novidade, e bem positiva. O meio-campista do Aston Villa deu dinâmica ofensiva ao time, exerceu muito bem o papel definido a ele na fase ofensiva, com boas chegadas no ataque e construção do jogo a partir do campo de defesa, e acima de tudo não "sentiu" o peso. Jogou fácil, sem medo, sempre se colocando como opção em campo. Além do mais, tem um papel muito importante na variação para a fase defensiva.
Sem a bola, a seleção brasileira marca alto no 4-3-3, com Everton ou Richarlison pela direita, Roberto Firmino centralizado e Neymar pela esquerda pressionando para recuperar a bola no último terço do campo. À medida que o adversário avança, Neymar e Firmino "sobram" à frente, o atacante pela direita fecha a segunda linha e, no lado oposto, Douglas é o responsável pela variação. Ele fecha o setor esquerdo, com Casemiro ao lado e Philippe Coutinho como meia interno pela direita. Trata-se de 4-4-2 médio e baixo na fase defensiva.
Contra a fraca Bolívia deu muito certo. Os jogadores de frente tiveram liberdade para criar e a amplitude com Everton (depois Richarlison) e Renan Lodi funcionou demais. Coutinho e Neymar como meias avançados, com total liberdade, e Firmino abrindo espaços. Já contra o Peru, mais organizado, porém desfalcado, a dificuldade foi maior. Principalmente na saída de bola do Brasil, quando os peruanos adiantaram a marcação e conseguiram ter superioridade numérica em diversas ocasiões.
Os dois gols saíram em jogadas de rebote, na entrada da área. Falhas individuais, mérito do adversário e azar também. Em Lima a seleção mostrou tranquilidade para reagir a um placar adverso em dois momentos do jogo, mas alguns atletas voltaram a demonstrar muito nervosismo em campo. Neymar, por exemplo, tentou resolver várias jogadas sozinho, como nos tempos da Copa de 2018. Isso acontece, claramente, quando ele se irrita com a arbitragem em campo. Fez três gols (dois de pênaltis) e superou o recorde de Ronaldo Fenômeno na seleção, atrás agora apenas de Pelé em número de gols em jogos oficiais. Neymar é craque e o desenho tático é muito pensado nele. Precisa desequilibrar jogos grandes para, inclusive, justificar a confiança depositada em si.
Richarlison merece uma análise especial. Vive excelente fase na carreira e, depois da partida contra os peruanos, admitiu que o convívio com Carlo Ancelotti tem melhorado demais seu futebol. No Everton, tem atuado aberto pela esquerda nesta temporada, com Dominic Calvert-Lewin centralizado e James Rodríguez na direita do 4-3-3. Possui versatilidade para render nas três posições. Com o Brasil, foi arma importante pela direita nas bolas longas, nas costas do lateral Trauco, e depois, como atacante central, oferece mais poder de conclusão das jogadas na comparação com Firmino.
Todo esse desenho tático foi muito bem trabalhado nos dias em Teresópolis. Não é, necessariamente, o ideal para enfrentar adversários mais fortes. Por isso é importante manter no bolso mais opções e variações táticas, para estar preparado para enfrentar outros tipos de equipes. O próprio Ricardo Gareca deixou evidente a ótima preparação da seleção peruana para encarar o novo padrão tático brasileiro.
A preparação para a Copa do Mundo de 2022 começou no dia seguinte à eliminação para a Bélgica. Os aprendizados daquele Mundial foram enrome e significativos a Tite e os membros da comissão técnica, como Cléber Xavier. Mudanças aconteceram, como a saída de Edu Gaspar e a chegada de Juninho Paulista, além da incorporação de César Sampaio à equipe. São 50 partidas da seleção brasileira sob o comando de Tite, com 36 vitórias, dez empates e quatro derrotas. Uma classificação para a Copa conquistada facilmente, após cenário de terra arrasada na chegada, um título de Copa América, uma eliminação em quartas de final de Mundial, e agora o início da trajetória rumo ao Catar.
Tite é o melhor técnico do Brasil e faz um trabalho muito bom com a seleção brasileira. Teve, indiscutivelmente, fases melhores, assim como momentos bem ruins. Em todo esse processo jamais deixou de buscar um futebol bem jogado e ofensivo. Nem sempre conseguiu, isso é óbvio, mas para todos que conhecem o trabalho desenvolvido desde o segundo semestre de 2016 essa situação é muito clara. Tem um longo caminho até novembro de 2022, quando se iniciará a Copa. Testará mais jogadores, buscará outras formações, desenvolverá as variações táticas. Thiago Silva vai permanecer em todo ciclo? Daniel Alves voltará a ser titular? São algumas perguntas que continuarão, por exemplo.
Está evidente que a seleção brasileira precisa evoluir para, efetivamente, brigar pelo título mundial. Hoje, todas as principais adversárias passam por estágios similares com foco em 2022, não há uma equipe nacional sobrando no planeta. Tite tem pela frente a missão de tornar o Brasil, novamente, o melhor time do mundo.
Fonte: Gustavo Hofman
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