Uma maratona de Boston na conta, por favor! A medalha que faltava para uma corredora de 52 anos
Eu vou repetir o início de alguns conteúdos que já escrevi por aqui: as minhas musas inspiradoras são mulheres reais! Acho lindo olhar para uma mulher que faz parte do meu dia a dia e me inspirar nela.
A Yara é exatamente assim! Nos conhecemos por conta de trabalho e não desgrudamos mais. As afinidades são inúmeras, e ainda somos vizinhas de aniversário. Vocês não imaginam o quão insuportável ficamos quando resolvemos falar do nosso signo, peixes.
A Yaya (meu apelido para ela) é a mulher que eu quero ser quando chegar #Aos50. Ela é pura inspiração: de vida, histórias e experiências. Apesar de nos conhecermos há menos de um ano, acompanhei de perto o sonho dela de correr a maratona de Boston, a Maratona das Maratonas.
Com uma história de 120 anos, Boston é uma maratona para privilegiados, já que seleciona os corredores por meio de índice e faixa etária.
Ya tem 52 anos e corre há 12. Tem, no currículo, uma transformação de vida e inúmeras maratonas. Faltava Boston entre as tantas medalhas. A vaga para Boston foi garantida em setembro de 2017 por causa do bom tempo que fez na Maratona de Porto Alegre - 42km em 3h40min!
Pois bem, a Maratona de Boston, só neste ano, reuniu cerca de 30 mil corredores por meio de índice e faixa etária. Para a Yara se garantir na vaga na faixa etária dos 50 aos 54 anos, precisava de uma maratona com tempo abaixo de 4h. Por isso, a classificação veio com a prova de Porto Alegre.
Boston tem um percurso intenso e exigente, com inúmeras subidas e descidas, Yara sabia que seria desafiador e decidiu fazer a inscrição e se dedicar ao processo de preparação, buscando superação. Recorreu a treinos regulares de corrida em pelo menos três dias da semana. Musculação e pilates foram complementos para estar com mais preparo físico.
Vale lembrar que a Yara é atleta amadora, ou seja, uma mulher normal, assim como eu e você, e que, no meio de tantos treinos e dedicação ao sonho, havia a rotina do dia a dia, trabalho, família, vida pessoal, social...
Como uma determinação admirável e um mantra de vida que motiva qualquer um - 'Quanto mais forte eu sou, mais forte eu fico' -, no dia 12 de abril, Ya embarcou para Boston.
A maratona só seria disputada no dia 16, mas é necessário organizar a estrategia de corrida e a mente. E logo de cara, o primeiro desafio: nos comunicados da organização, a previsão do tempo era completamente instável, apesar de garantirem que não teria neve nem calor. A chuva, em algum momento, apareceria; mas em qual seria?
O dia 16 amanheceu com 3 graus e MUITA chuva! Ya nunca tinha corrido com tanta chuva. Adivinha? Nessa hora, a mente cria conflitos e Ya me confessa no nosso papo que pensou em desistir antes mesmo de entrar no ônibus que levava para a largada. Mesmo com os pensamentos em colapso, seguiu.
Naqueles 5 min antes da largada, pânico de novo! A mente gosta mesmo de criar armadilhas e limitar o que podemos ou não fazer; o medo vem. E se acontecer alguma coisa comigo? Uma hipotermia? Desmaio? Torção? Qualquer coisa!
Quando ela me conta o turbilhão de pensamento que passou por sua cabeça, vejo seus olhos brilharem. Era só a hora certa, o momento certo, e isso dá medo mesmo. Tudo correria bem, mesmo com a sensação térmica de -5º, rajadas de vento de 35km/h contra e um pouco de grazino em alguns trechos da prova. Uau!
“No Km5, com o corpo começando a aquecer, eu só pensava que podiam muito bem cancelar a maratona para eu ir para o hotel tomar um banho quente”. E caímos na risada logo depois que a Ya me relata a tentativa de desistência. O psicológico e a concentração, nessas horas, contam muito, e mesmo com tantos motivos para desistir, persistir é o melhor caminho.
Como Ya me disse no inicio do nosso papo, a Maratona de Boston não é corrida para pensar na vida, exige demais do psicológico. E não é pela torcida que lota as ruas da cidade, é a exigência interna, aquela cobrança que, muitas vezes, fazemos com nós mesmos.
Afinal, nem tudo sai como o planejado e, no Km 21, com 2h04min, 2 min a mais do que o esperado, a meia maratona estava completa. A vontade de desistir também insistiu em aparecer. E aí entra a sabedoria: que tal diminuir o ritmo? Foi isso que a Ya fez, já que duas grandes subidas estavam por vir, a do km 32 - a mais “punk” e falada do percurso.
Com maestria e controle, Ya chegou ao Km 35, ponto de encontro com o treinador, Marcos Paulo Reis. Em meio a tanta gente, cadê o treinador? A vontade de desistir bateu de novo e quando o incentivo falta, Ya ouve um grito do Marcos Paulo. Algumas palavras de incentivo e mais 7 km. O que em uma hora faltou, agora não faltava mais; a motivação havia voltado e os tão sonhado 42km seriam completados.
A sensação térmica, o rosto quase congelado, a torcida, o sorriso de incentivo das pessoas; era tudo e nada. Podiam existir mil motivos para desistir, mas a linha de chegada estava logo ali.
Com 4h16min49s, quase 10 min a mais do que o previsto, Ya cruzou a linha de chegada. Os nossos olhos no papo pós maratona se enchem de lágrimas.
“Sabe Ju, não é só uma prova de corrida. É olhar para trás e ver a vida. É encontrar com a Yara do passado e agradecer. Sem ela, provavelmente eu não estaria aqui, te contando essa história”.
E, novamente, Yara me ensina. Você não precisa ser extraordinário, mas você pode ter conquistas extraordinárias.
Ya, parabéns pela sua!
Uma maratona de Boston na conta, por favor! A medalha que faltava para uma corredora de 52 anos
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