Com técnicos locais, África vive Copa de recordes
Se em 2018, na Rússia, nenhuma seleção africana superou a fase de grupos, no Mundial do Qatar serão duas seleções do continente, Senegal e Marrocos, a representá-lo nas oitavas-de-final. As sete vitórias obtidas na fase de grupos representam um novo recorde, superando com folga as quatro de 2002 e 2010. Com um detalhe importante: todas, incluindo as eliminadas Tunísia, Camarões e Gana, venceram ao menos uma vez.
E não foram vitórias quaisquer, mas sobre seleções como França e Brasil, que mesmo preservando titulares eram dadas como claras favoritas no papel antes de a bola rolar.
O fato mais importante sobre o sucesso africano é a presença dos técnicos locais. Pela primeira vez na história, todas tiveram técnicos africanos no torneio. O bósnio Vahid Halilhodzic chegou a classificar o Marrocos, mas foi substituído antes do torneio por Walid Regragui, que vinha de levar o Wydad Casablanca ao título da Champions League do continente.
Regragui é um técnico de 47 anos, como Otto Addo, de Gana, que assumiu interinamente apenas para a última fase das eliminatórias e posteriormente para o Mundial. Suas origens são diferentes dos colegas africanos: nasceu e fez toda a carreira de jogador na Alemanha, onde permanece até hoje, trabalhando nas categorias de base do Borussia Dortmund.
Após a derrota na última rodada para o Uruguai, Addo confirmou que deixa a seleção para seguir seu trabalho com o clube, mas não será surpresa se for procurado por outro time ou seleção.
Camarões, que venceu o Brasil, também mudou de técnico entre a Copa Africana e a fase final das eliminatórias, em março, trocando o português Toni Conceição por Rigobert Song, histórico defensor dos Leões Indomáveis.
Apesar de críticas por uma suposta interferência do presidente da federação, Samuel Eto'o, e o desentendimento que levou à saída do goleiro André Onana da delegação, Song termina o torneio em alta: 4 pontos e um resultado histórico para uma equipe que, desde a campanha até as quartas-de-final em 1990, só havia vencido um jogo de Copa (em 2002, contra a Arábia Saudita).
Jalel Kadri era auxiliar da Tunísia até precisar dirigir a equipe num jogo da Copa Africana de Nações contra a Nigéria, quando o técnico Mondher Kebaier contraiu covid-19, e conquistar uma vitória por 1 a 0. Após a eliminação do torneio, foi promovido a técnico principal.
Em outros momentos criticada por um futebol burocrático, a Tunísia se apresentou com coragem e mereceu os pontos somados contra a Dinamarca e a França.
Por fim, Aliou Cissé, o grande símbolo deste grupo. Capitão em 2002, dirige Senegal há oito anos e já estava no comando em 2018, quando apenas o número de cartões evitou a passagem às oitavas-de-final. Desta vez, após a vitória história na Copa Africana, conquistou a classificação na fase de grupos do Mundial e vai desafiar a Inglaterra para se tornar o primeiro técnico africano nas quartas com uma seleção do continente.
As três melhores campanhas da África permanecem com técnicos estrangeiros - o russo Valery Nepomnyashchy com Camarões, em 1990, o francês Bruno Metsu com Senegal, em 2002, e o sérvio Milovan Rajevac com Gana, em 2010 - mas a campanha atual demonstra que não é condição indispensável para chegar longe.
Vagas - O controverso aumento de participantes da Copa do Mundo para 48 a partir de 2026 merece muitas críticas, especialmente pela dificuldade de encontrar um bom regulamento. O aprovado pela Fifa, com grupos de 3, é propício a jogos mortos na última rodada, e o que se discute em bastidores, com grupos de 4, provocaria uma maratona na primeira fase apenas para eliminar um terço das seleções.
Para a África, porém, há razões para achar uma boa ideia. O aumento de cinco vagas diretas para nove, com mais uma possível via repescagem, dará mais chances a seleções competitivas que ficam de fora - foi o caso de Argélia, Nigéria, Egito e Costa do Marfim, desta vez.
O formato atual das eliminatórias, que define as vagas em confrontos de ida e volta, é o mais cruel entre todos os continentes, e pune o mínimo erro, muitas vezes derrubando grandes campanhas. As vagas a mais devem corrigir essa distorção.
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