É guerra? Nome da Fifa em projeto de superliga de clubes na Europa acende disputa por pote de ouro
O sonho de alguns dos clubes mais poderosos da Europa de criar uma superliga fechada não é exatamente novo. A conversa aparece de tempos em tempos, especialmente quando é de interesse dos dirigentes barganhar por reformas nas competições que disputam.
O atual formato da Champions League, em que metade das vagas na fase de grupos é ocupada por times das quatro principais ligas, é um exemplo deste poder. A presença das grandes camisas é fundamental para o sucesso da competição de clubes mais rentável do mundo.
Porém, muitas vezes garantir vagas aos principais campeonatos não assegura que os times mais famosos estarão lá, certo? Quem não se lembra da declaração do presidente da Juventus e da Associação Europeia de Clubes (ECA, na sigla em inglês), Andrea Agnelli, questionando a presença da Atalanta na Champions por causa de "uma boa temporada"?
Surpresas como a Atalanta nas quartas de final ou mesmo o Leicester vencendo a Premier League são lindas para os apaixonados pelo esporte, mas incômodas para os clubes mais endinheirados. E quando a distribuição da grana sofre um impacto tão pesado quanto o causado pela COVID-19, cada um corre para defender o seu.
Primeiro, foi revelada uma tentativa de mexer no modelo democrático e diminuir o número de participantes da Premier League, liderada por Liverpool e Manchester United e apoiada pelos clubes das divisões inferiores, que receberiam uma bela compensação financeira. O plano encontrou forte oposição e foi rejeitado.
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Novo projeto incendiário. E com chancela da Fifa?
Nesta terça-feira (20), surgiu na Sky britânica a informação de que os dois rivais do norte da Inglaterra estão juntos num outro projeto incendiário: uma liga continental que, ao contrário das outras já propostas, contaria com o apoio da Fifa. Na prática, uma declaração de guerra aberta à Uefa e à Champions como conhecemos.
De acordo com a Sky, investidores levantariam um fundo de cerca de US$ 6 bilhões para bancar a criação da 'Premier League europeia'. Mais de uma dúzia de times dos principais centros do futebol europeu já estariam em negociações para se tornarem membros fundadores da liga, cuja ideia inicial é contar com até 18 clubes.
O envolvimento da Fifa, destacado na matéria, é um ponto a não se negligenciar. Primeiro, porque a ideia de uma superliga sempre esbarrou em sua legalidade. Se fosse considerada pela entidade máxima do futebol uma liga 'pirata', seus jogadores ficariam impedidos de disputar a Copa do Mundo, por exemplo.
Por mais que o Mundial de seleções seja uma mina de ouro para a Fifa (a edição de 2018 gerou mais de US$ 5 bilhões), há um limite sobre o quanto ela pode oferecer - e um imenso potencial no futebol de clubes que ela mal toca.
Que o atual formato do Mundial de Clubes é um fracasso de relevância global (e consequentemente de receitas), já entenderam faz tempo, tanto que ele será abandonado em prol de um modelo com 24 clubes, disputado a cada quatro anos. O primeiro deveria ser na metade de 2021, mas será remarcado por causa da readequação do calendário.
Num primeiro momento, os clubes europeus torceram o nariz para a ideia deste Mundial, mas foram convencidos pela linguagem que melhor conhecem: a do dinheiro.
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A Champions virou um problema?
O calendário internacional está garantido até 2024, mas há grande incerteza sobre o que virá depois. Discussões sobre o novo formato da Champions travaram depois que as ligas nacionais reagiram com veemência a um plano de atrelar boa parte das vagas ao desempenho na própria competição, diminuindo o peso dos campeonatos domésticos para a definição dos participantes.
As últimas discussões, noticiadas pelo Telegraph, também da Inglaterra, falam em formatos de 36 times, que garantiriam um mínimo de dez partidas por equipe na fase inicial. Sabendo que o calendário não ganhará mais datas por mágica, é inevitável pensar que os campeonatos sejam afetados. Sem falar nas pressões dos clubes por reformular o calendário das seleções.
Se este debate já era problemático, a pandemia colocou um novo ingrediente. Até hoje, as receitas geradas pela Champions só fizeram aumentar. Agora, há um impacto inevitável. De acordo com o The Times, outro veículo inglês, a Uefa informou aos clubes que as premiações das competições europeias devem ter cortes durante um período de cinco anos.
A mudança do formato da última Champions para jogos únicos permitiu que ela fosse concluída, mas não sem consequências financeiras. Ao entregar menos jogos que o previsto - e com atraso -, a entidade europeia precisou devolver parte do dinheiro dos direitos de transmissão.
Semana passada, em discurso na assembleia de sócios da Juventus, Agnelli estimou que a perda total do mercado do futebol europeu possa superar os 6 bilhões de euros.
Investidores têm interesses distintos
É importante lembrar que a presença de grandes investidores no futebol atende a interesses bem distintos. Clubes como Manchester City e Paris Saint-Germain, de propriedade de estados do Oriente Médio, servem como instrumento de propaganda e construção de imagem positiva, fenômeno que ganhou o apelido de 'sportswashing'.
O modelo de um bilionário apaixonado que pode colocar dinheiro a perder de vista num clube, muito popular na Itália dos anos 1980/1990, foi superado quando as normas endureceram.
No caso dos proprietários norte-americanos de Manchester United e Liverpool, por exemplo, o objetivo é o lucro. Eles não estão no esporte por paixão pelos clubes que compraram, mas pelo retorno financeiro que eles podem oferecer. Por este pensamento, se a lógica econômica superar a lógica esportiva, que assim seja.
Agora, eles podem estar no meio de uma disputa de poder que colocaria frente a frente Fifa e Uefa. A imagem de união do sistema futebol em tempos de pandemia durou menos tempo do que a pandemia em si. Alguém se surpreende?
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