Entre 12 mil e 15 mil empregos de jogadores de futebol desaparecem todos os anos no Brasil
Quando o Bom Senso Futebol Clube foi criado, fui convidado pelo seu mentor, o jogador de futebol Paulo André, para colaborar na estruturação da proposta do movimento a respeito do calendário do futebol brasileiro. O primeiro diagnóstico que fiz para o grupo foi muito claro: no futebol brasileiro, clubes grandes jogam demais, clubes pequenos jogam de menos.
Sobre o fato dos clubes pequenos jogarem de menos, foi adiante: fiz um estudo, para o movimento, mostrando que, ao final dos campeonatos estaduais, entre 12 mil e 15 mil jogadores ficam sem emprego. A metodologia para se chegar a estes números não foi difícil de ser pensada. Segue, abaixo:
a) O futebol brasileiro tinha, em 2014, cerca de 700 clubes que disputavam campeonatos estaduais, em suas diversas divisões (683 clubes, para ser mais preciso, em levantamento que fiz na época).
b) Apenas 100 deles jogavam depois dos campeonatos estaduais: os 20 do Brasileiro Série A, os 20 do Brasileiro Série B, os 20 do Brasileiro Série C e os 40 do Brasileiro da Série D (hoje são 68 na Série D, mas, na época, eram 40).
c) Portanto, 600 clubes que jogaram os campeonatos estaduais ficavam sem atividades depois destes.
d) Se cada clube desses 600 fosse ter 20 jogadores no elenco, seriam 12 mil empregos de jogador de futebol que se encerrariam.
e) Se cada clube desses 600 clubes fosse ter 25 jogadores no elenco, seriam 15 mil empregos de jogador de futebol que se encerrariam.
A partir desse diagnóstico, eu, Paulo André, Eduardo Conde Tega, da Universidade do Futebol, e outros colaboradores, engendramos a proposta de calendário do grupo, que visava, além de reduzir o número de partidas dos grandes clubes, propiciar às centenas de pequenos clubes jogos ao longo de toda a temporada, para se evitar tal impacto de desemprego estrutural, ceifando empregos diretos e indiretos – algo que também sempre propus em meus livros e artigos a respeito.
Para a nossa surpresa, exatamente a maior reação a isso partiu... dos pequenos clubes! Eles não querem jogar a temporada inteira, mas sim jogar apenas três meses, para embolsar o dinheiro que a Rede Globo de Televisão lhes paga pelos campeonatos estaduais e, depois disso, submergirem.
É vergonhoso, mas é real. Os gestores dos clubes pequenos, em seu comodismo, não querem refletir que atividades ao longo de toda a temporada geram maior visibilidade da marca e, portanto, possibilidade de patrocínios mais longos. Não querem refletir que, tendo atividades ao longo de toda a temporada, podem ter melhores possibilidades de comparecimento aos seus jogos e atratividade de televisão, mesmo que modesta em relação aos clubes grandes. Não querem refletir que, com atividades ao longo de toda a temporada, podem exibir melhor sua boas revelações, aumentando o potencial de cifras com negociações de direitos federativos.
O que os “cartolas” dos clubes pequenos querem é jogar três meses, embolsarem um dinheiro de televisão, e desaparecerem até a temporada seguinte. Lamentável, e prejudicial não só a eles, mas também aos clubes grandes, que, por conta disso, se veem atrelados a longuíssimos campeonatos estaduais e todas as mazelas daí decorrentes.
Assim, existe o potencial de se ter calendário ao longo da temporada inteira para 160 clubes, e olhe lá! O ideal de oferecer calendário ao longo de toda a temporada para centenas de clubes torna-se inviável, devido à miopia estratégica dos gestores dos clubes menores. É triste, gera desemprego, mas assim é.
Definitivamente, se pensa pequeno em nosso futebol. E, assim, esse vai definhando a olhos vistos. Em época de Copa do Mundo, é bom lembrar que 7 x 1 não é uma mera coincidência.
*Luis Filipe Chateaubriand é um estudioso e propositor acerca do calendário do futebol brasileiro
Fonte: por Luis Filipe Chateaubriand*
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