Depois de sofrimento e decepções, Villanova é a maior equipe do basquete universitário dos EUA
O sucesso. Quase sempre difícil de ser alcançado. Um retrospecto favorável contínuo ainda mais complicado. O time de basquete de Villanova Wildcats parece ter adquirido, nos últimos anos, todo o DNA de sucesso. Nas últimas três temporadas, dois títulos. Nas últimas quatro temporadas, o maior número de vitórias de uma equipe universitária masculina na história. Jay Wright é nome recorrente na lista dos melhores técnicos do basquete universitário. Qual foi a receita para Villanova mudar o rótulo de universidade inofensiva para a equipe mais organizada e temida do país?
Final da temporada 2011-12. Wright, sentado à beira da quadra do ginásio The Pavillion, pensava. Por que Villanova, mesmo tendo recrutado diversos jogadores cinco estrelas e tendo chegado ao Final Four em 2009, não deslanchava. A temporada havia sido um desastre. 13 vitórias em 32 jogos, primeira vez desde 2004 que os Wildcats não iam ao March Madness. Mudanças na comissão técnica eram prováveis.
“Preciso de um jogador, de um perfil certo para alavancar este programa”. Jay Wright sabia o que queria, nas palavras de Billy Lange, associate head coach, que havia deixado a equipe após a temporada de 2004 e retornaria para a temporada 2012-13.
Seis meses depois, dois jogadores recrutados. Ryan Arcidiacono e Daniel Ochefu. Oito meses depois, Josh Hart e Kris Jenkins. O tempo, posteriormente, mostraria que esse quarteto seria essencial para a mudança de paradigma na história de Villanova. Os nomes deles seriam eternizados na universidade.
Arcidiacono nasceu na Philadelphia. Seus pais acompanhavam os jogos do time e levavam o menino desde os quatro anos ao ginásio. O sangue wildcat parecia fadado a trazer glórias para Villanova. Numa decisão surpreendente, Jay Wright anunciou o armador Arcidiacono, calouro, como capitão. Espanto dos mais experientes.
Meses depois, Villanova enfrentou Purdue no Madison Square Garden. O templo do basquete reservava um jogo feio e truncado. O pivô de Purdue era quase imarcável no garrafão. Arremesso de três pontos. Bola no aro. Arcidiacono toma a frente do pivô, faz o boxout e espera o empurrão. O árbitro marca falta de ataque. A vibração do armador dos Wildcats contagia o time, o banco e a torcida. Villanova venceu o jogo e o espírito de um capitão que queria mudar a história da universidade parece ter energizado para sempre aquele time.
No fim da temporada, saldo positivo. Eliminação na primeira rodada do March Madness para North Carolina, mas a certeza que o percurso seria positivo a partir dali. Nos dois anos seguintes, ótimas campanhas durante as temporadas regulares, terminando como escolha número 1 e 2 nos Torneios da NCAA de 2014 e 2015. Derrotas inesperadas para Connecticut e North Carolina State marcaram Villanova como a equipe que não tinha poder em março.
Os melhores jogadores da equipe, JayVaughn Pinkston e Darrun Hilliard, eram seniors e se despediram depois da temporada de 2015. Novamente a desconfiança tomaria conta de Villanova. Como iriam reverter o processo, sendo que as principais referências estariam longe?
Tradicional em todos os verões, Villanova organiza o Summer Jam em que jogadores atuais do time enfrentam ex-jogadores. Todos os relatos revelam que isso cria um fortalecimento da história, da força da universidade. Imagens de Nova Nation e Family nas paredes dos vestiários e dos prédios da equipe salientam ainda mais a união.
Wright, geralmente, não usa todas as suas bolsas de estudo que têm à disposição. Com isso, deixa jogadores como redshirt (sem jogar), principalmente no primeiro ano. Assim, eles aprendem a cultura, as táticas e o que é ser um wildcat. Isso aconteceu com o atual herói do título de Villanova nesta temporada, Donte DiVincenzo. Com Mikal Bridges, provável escolha do Draft da NBA em 2018, também. Omari Spellman, principal referência do garrafão de Nova, seguiu o mesmo caminho. O roteiro parece ter sido acertado e os frutos colhidos.
A mudança começou, literalmente, a 4s7 do fim. Dia 4 de abril de 2016. O NRG Stadium, em Houston, completamente lotado. Marcus Paige havia acertado uma bola de três pontos, em dois tempos, de maneira magnífica. North Carolina empatou o jogo. A torcida de Villanova não acreditava. Será que o destino de ser uma equipe que, em março, não mostrava poder, seguiria causando pesadelos?
Saída de bola. Kris Jenkins faz o passe para ele, Arcidiacono, o menino que tinha o sangue azul e branco, o DNA daquele que sofria por Villanova. O armador passa para a quadra de ataque. Para. Passa. Jenkins recebe. Josh Hart e Daniel Ochefu olhavam. Os quatro que, três temporadas antes, estavam sendo recrutados e no caminho de mudar a história de Villanova. O ginásio se cala. Aflição. Tensão. Jenkins pula. Arremessa. Vai para a história de Villanova. O sofrimento e a luta acabam. Os Wildcats são campeões nacionais.
De Hofstra a Villanova, de irrelevante a campeão nacional, Wright colocava seu nome entre os maiores, entre aqueles que venceram um título nacional. A safra de Arcidiacono, Ochefu, Jenkins e Hart se consolidava. Jalen Brunson, menino ainda, calouro, desfrutava no primeiro ano daquilo que todos sonharam. Mal sabia Brunson que o destino seria tão bom quanto para ele.
Na temporada seguinte, Arcidiacono e Ochefu deixaram a equipe e seguiram carreira profissional. Hart e Jenkins continuaram. Villanova dominou a conferência Big East. Chegou ao March Madness como favorita. O garrafão era mais fraco, sem a presença no nigeriano Ochefu. Derrota sofrida para Wisconsin. Eliminação. Fim da Era de Ouro de Hart e Jenkins também. Brunson seria o remanescente. Bridges e Booth também.
A temporada 2017-18 chegara. Wright, decidido a vencer mais um título, deu carta branca aos jogadores para arremessar de longa distância. O modelo consolidado na NBA, principalmente com Golden State Warriors e Houston Rockets, também chegaria ao college. Brunson na armação, Booth ao lado dele, Bridges na ala, Eric Paschall, jogador que se transferiu de Fordham, fraca equipe da conferência Atlantic 10, e Omari Spellman, pivô cinco estrelas vindo do High School, que havia sido redshirt na temporada anterior. Quinteto forte, mas faltava algo a mais. Algo que pudesse credenciar Villanova ao título. Donte DiVincenzo. O jovem de Delaware, de origem italiana, comparado a Michael Jordan no High School, muito por conta do domínio dele em quadra e pela falta de qualidade no Estado, que não é conhecido por revelar tantos jogadores de basquete. A equipe estava completa. Wright com sede de fazer história. De novo.
O caminho foi tranquilo. Somente quatro derrotas na temporada regular. Título do Torneio da Big East e a escolha número 1 no March Madness. Radford, Alabama, West Virginia e Texas Tech, destruídas por uma Villanova implacável. Todos os jogos com, no mínimo, dez pontos de diferença. O destino era San Antonio, Alamo Dome. 68 mil pessoas. Kansas do outro lado. O último título dos Jayhawks, em 2008, havia sido ali naquele estádio, com Mario Chalmers ofuscando Derrick Rose. Doutrinação. Villanova venceu sem dificuldades, batendo o recorde de bolas de 3 pontos em uma temporada universitária (464 – o recorde anterior era de Virginia Military com 442 em 2006-07). Na final, Michigan era o adversário. Os Wolverines eliminaram a Cinderella Loyola-Chicago na fase anterior.
Parecia que o destino seria diferente. Michigan começara bem. A bola de 3 de Villanova não caía como no jogo anterior. Até que um homem se levantou. Ouviu instruções de Wright. Sentou à frente dos marcadores de tempo e cronômetro. Esperou. O momento seria seu. DiVincenzo em quadra. Tudo parecia fluir para ele. 18 pontos na primeira etapa. Maior pontuação de um jogador em um intervalo de final desde Tyus Jones, em 2015, com 19. O desempenho empolgou a equipe. O líder Brunson e o espírito na camisa arraigado pelo sangue de Arcidiacono. Mikal Bridges, a força e técnica como Hart. Eric Paschall, a saída de escape, assim como Jenkins foi. Omari Spellman, a raça e a luta no garrafão, como Ochefu sempre teve.
Mais um título, mais uma vibração. Nomes diferentes, jogadores diferentes. O mesmo espírito.
Wright, nos próximos dias, deve sentar à beira da quadra do The Pavillion. Observar as cadeiras vazias. Rir para si mesmo.
Depois de tanto sofrimento e decepções, Villanova é a maior equipe do basquete universitário dos EUA.
Depois de sofrimento e decepções, Villanova é a maior equipe do basquete universitário dos EUA
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