Paixão e sacrifícios: sjokz, apresentadora de 'League of Legends', conta como construiu sua carreira no eSport

Daniela Rigon/ESPN.com.br
Pedro Pavanato/Riot Games
Sjokz, apresentadora e entrevistadora da Riot Games, comenta sua carreira em entrevista para o ESPN eSports
Sjokz, apresentadora e entrevistadora da Riot Games, comenta sua carreira em entrevista para o ESPN eSports

O último dia do Mid-Season Invitational em São Paulo poderia ter sido apenas mais um dia de cobertura do evento não fosse pela oportunidade única que tive de entrevistar Eefje "sjokz" Depoortere, apresentadora e entrevistadora da LCS EU.

Com certeza, não sou a fã número um da sjokz, mas acompanho e admiro muito seu trabalho, principalmente por me sentir bem representada em uma das poucas figuras femininas do cenário. Juntando isso ao fato de ser o único veículo que conseguiu uma entrevista com ela além da Riot Games até o momento só me deixou mais ansiosa.

Quase uma hora antes do início das partidas do dia, entrei em uma sala reservada para entrevistas e a encontrei sentada, descontraída e com roupa informal. Nervosa, comecei a fazer as perguntas para este artigo que pretende tanto apresentar a sjokz quanto prestigiar seu trabalho e, quem sabe, inspirar pessoas.

Vida e videogame

Minha primeira pergunta a sjokz foi sobre seu primeiro contato com videogames e como ela acabou trabalhando com League of Legends. Pouca gente sabe, mas a apresentadora era gamer desde pequena. "Já jogava videogame desde criança, com consoles da Sega, mas me interessei mais por jogos com 12-13 anos, quando tive meu primeiro computador", contou.

Nesta época, sjokz lembra, foi lançado o primeiro jogo de uma franquia clássica de first person shooter: Unreal Tournament (1999), e esta foi também sua primeira experiência jogando online com pessoas que não conhecia. O saudoso UT também foi a origem de seu apelido. Em seu Twitter, a belga explicou que "sjokz" é uma maneira diferente de escrever "shocks", em holandês, e também remete à arma "shock rifle" do jogo. 

"Fiz muitos amigos jogando e até cheguei a competir", disse. "Mas quando entrei na faculdade passei a jogar menos porque a internet era ruim e meu computador não era bom".

Jan Doedel / YouTube
Screenshot de Unreal Tournament e um de seus mais famosos mapas
Screenshot de Unreal Tournament e um de seus mais famosos mapas

Quando entrou na universidade, sjokz cursou História e depois descobriu que gostaria de seguir carreira no jornalismo esportivo por ser muito fã de futebol, tênis e ciclismo, mas sua vida cruzou com o videogame novamente após sua graduação. "Na época, alguém me convidou pra jogar League of Legends falando que era divertido e gratuito", relembrou. "Fiquei viciada e descobri que tinha todo um cenário competitivo por trás, que me parecia muito com o esporte tradicional, e pensei: ‘eu gostaria de escrever sobre isso'".

Decidida, sjokz se candidatou em alguns sites e acabou sendo chamada pela SK Gaming para escrever sobre League of Legends. "No começo escrevia textos simples, como mudanças de escalação e resultados de torneios, e depois de um tempo o pessoal do site pediu para que eu começasse a fazer vídeos", explica.

Eu nunca havia pensado em fazer vídeos e não estava muito animada porque é assustador.

sjokz

Apesar de parecer incrivelmente natural e confortável com as câmeras hoje em dia, a apresentadora confessa que não gostou da ideia de fazer vídeos inicialmente - e acredito que muitos vão se identificar com ela. "Eu nunca havia pensado em fazer vídeos e não estava muito animada, porque é assustador", lembra. "Mas comecei a fazer alguns vídeos com a minha webcam, aparecer na câmera aos poucos e comecei a gostar mais com o tempo".

Mas como ela foi de jornalista para apresentadora da Riot Games? A essa pergunta, a belga respondeu que estava trabalhando em eventos da ESL na Europa quando ouviu dizer que a Riot Games estava com planos de criar um estúdio e uma liga regional. "Perguntaram se eu estaria interessada em trabalhar com eles, e eu disse claro", explica. "Foi bem rápido depois disso. Em um mês me mudei da Bélgica para Cologne (Alemanha) e comecei a trabalhar".

SK Gaming / YouTube
Na SK Gaming, sjokz começou a fazer o programa Summoners Recap em vídeo
Na SK Gaming, sjokz começou a fazer o programa Summoners Recap em vídeo

Respirando League of Legends

Conversando sobre seu trabalho na Riot Games, sjokz mostrou paixão pelo que faz e felicidade por sua evolução. A belga recorda que, no início, a LCS EU só possuía um sistema de apresentadora/entrevistadora que passava a bola direto para os narradores, mas que tudo mudou com a chegada da mesa de análise.

"Foi aí que passei para o papel de ser a ‘apresentadora' da mesa, o que foi um desafio pois não sou uma caster. Claro que jogo bastante, mas meu conhecimento é diferente, não é tão técnico, é mais sobre histórias e como tirar respostas dos jogadores. Sei fazer as perguntas certas", contou. Humilde, completa: "Sempre falo que não é sobre mim, é sobre fazer com que os convidados da mesa estejam prontos para serem eles mesmo e fazerem sucesso".

Meu conhecimento é diferente, não é tão técnico, é mais sobre histórias e como tirar respostas dos jogadores.

sjokz

Sjokz também demonstrou muito carinho por seu papel inicial em eventos: o de entrevistadora. "Em grandes eventos internacionais faço as entrevistas, o que eu gosto bastante porque sinto que tem algo especial em conversar cara a cara", afirmou. "Também construi relacionamentos com vários jogadores através dos anos, então é legal acompanhá-los".

Quando perguntei se algum dia ela pensa em testar outros trabalhos, como de narradora, ela ficou pensativa por um tempo e disse: "Talvez eu queira tentar. Tenho muito respeito pelos casters, pois parece algo muito incrível de se fazer", afirmou. "Acho que o mais difícil é quando eu arranjaria tempo para praticar, pois nosso ano já é extremamente cheio. Mas sim, talvez eu tente um dia".

O tema de trabalho em excesso apareceu novamente na entrevista quando conversamos sobre os pontos positivos e negativos de atuar na área de eSports. Assim como muitas pessoas que trabalham com jogos, sjokz se sente sortuda por poder trabalhar com algo que ama. Entretanto, essa também é a parte mais difícil, pois você nunca sai do seu trabalho de verdade.

"A melhor parte é poder viajar e trabalhar com o que amo e fazer o que amo, mas acredito que isso também é a parte mais difícil, pois esse tipo de trabalho toma conta da sua vida", confessou. "Você está sempre viajando e trabalhando, então nunca sobra muito tempo pra fazer outras coisas. Claro que ainda tenho isso às vezes, não é completamente horrível, mas é mais difícil porque você não tem muito tempo livre para ver sua família, ou você tem que planejar com antecedência e normalmente não é quando eles estão livres. É como se fosse um sacrifício, mas no fim vale a pena".

Durante a conversa sobre seu trabalho, aproveitei para perguntar se ela se considera uma inspiração para outras mulheres entrarem no mundo do esporte eletrônico - que, sejamos sinceros, não é conhecido por ser muito receptivo com o gênero feminino. A resposta foi positiva.

Você precisa ter paixão pelo que faz.

sjokz

"Parece meio bobo da minha parte dizer isso, mas espero que eu seja um bom exemplo. Muitas garotas, e até garotos, já chegaram pra mim e falaram como estão felizes por ter um exemplo - e é isso que eu quero ser. Passar os valores certos, de trabalhar com empenho e mostrar que você ama o que faz", disse.

Entretanto, a apresentadora aproveitou a oportunidade para dar um conselho a quem deseja trabalhar com esportes eletrônicos. "Acho que, além do fato de meninas e meninos desejarem entrar nesse mundo, acredito que muitas pessoas pensam simplesmente: ‘nossa, esse negócio de games está crescendo, é legal, quero aparecer na câmera e vou fazer isso', mas para mim isso não é bem a maneira certa. Para mim é: ‘OK, amo esse jogo e quero fazer o melhor conteúdo sobre ele, e é por isso que quero trabalhar com ele'. Você precisa ter paixão pelo que faz", frisou.

Sjokz / Twitter
Sjokz e Froskurinn, dois dos grandes nomes femininos no League of Legends internacional
Sjokz e Froskurinn, dois dos grandes nomes femininos no League of Legends internacional

Sobre jogar e relaxar

Ainda no tema de um trabalho que toma conta de sua vida, sjokz confessou que anda jogando menos League of Legends do que antes. "Eu costumava gostar muito de jogar, mas percebi que depois de uma temporada inteira que eu jogava e assistia muito, eu ficava enjoada de LoL e no final do ano eu precisava de uma folga. Então, a partir do ano passado, comecei a jogar coisas diferentes e explorar mais jogos de estilos totalmente diferentes".

Citando franquias como Far Cry e Tomb Raider como algumas de suas favoritas, a belga explicou que sente a necessidade de jogar offline após trabalhar tanto com jogos online. Mesmo assim, garante que está tentando voltar a jogar mais League of Legends, pois apenas assistir e ler sobre o jogo não se compara à sensação de 'colocar as mãos na massa'.

É relaxante para mim assistir a outros jogos e ver como as coisas são feitas neles.

sjokz

Sjokz também confessou que desistiu de jogar partidas ranqueadas por ser competitiva demais. "Acredito que foi na Season 3 que peguei Platina. Eu ficava muito estressada porque queria ser a melhor e acabava ‘travando' quando perdia. Decidi me dar umas férias e hoje jogo apenas as filas normais ou com fãs. Esse foi meu tchau para o competitivo", revelou.

Além de jogar outros tipos de videogame, a apresentadora contou que está assistindo a outras modalidades de eSport, como Overwatch e Counter-Strike. "Assisto principalmente por curiosidade. É sempre incrível ver como outros apresentadores e narradores trabalham, como ficam na mesa e como fazem seus vídeos", explicou. "Na verdade, é relaxante para mim assistir a outros jogos e ver como as coisas são feitas neles".

Sjokz no Brasil

Com meu tempo de entrevista chegando ao fim, não podia deixar de perguntar a sjokz o que ela está achando do Brasil. Segundo ela, esta é sua primeira vez no país e na América do Sul como um todo, e a visita era algo que ela esperava que acontecesse desde que viu o CBLoL pela primeira vez, há dois anos, e também por todo o carinho e interação que recebe do público brasileiro nas redes sociais.

Assim como jogadores e outros casters entrevistados, sjokz concorda que o povo brasileiro é muito amigável e passional - o que, para ela, explica uma torcida tão barulhenta. "Até aqui [no estúdio] com 500 pessoas, parece que são 5 mil", riu.

Bebi caipirinha, experimentei cachaça e comi muitas coxinhas.

sjokz

Sobre suas experiências até o momento, a apresentadora confessa que achou um pouco estranho as pessoas se cumprimentarem com beijinhos na bochecha. "Na Bélgica fazemos isso, mas não com pessoas desconhecidas, e damos de dois a três". Expliquei que no Rio de Janeiro são dois beijinhos, e sjokz respirou aliviada: "Ainda bem que me avisou".

A apresentadora também contou que experimentou algumas especiarias do país. "Bebi caipirinha, experimentei cachaça e comi muitas coxinhas, e percebi que a comida brasileira é uma comida para se confortar, são muitos sabores e molhos e gostei muito. São comidas simples, mas gostosas", elogiou. Além disso, revelou sua esperança de pegar um pouco mais de Sol na etapa do Rio de Janeiro. "Aqui em São Paulo só ficou nublado", brincou.

Em seguida, perguntei a sjokz sobre um tweet no qual ela pediu para que o público enviasse músicas brasileiras e se ela gostou de alguma. "Recebi muitos links, mas muitas pessoas falaram que um pessoal estava me ‘trollando' - o que é algo que eu já reparei que acontece quando peço coisas na internet, então não tive muito tempo de ouvir", confessou. "Mas tem uma música chamada ‘Ai Se Eu Te Pego' (Michel Teló), que foi um grande sucesso há uns dois anos atrás e cantávamos muito, mas nunca reparei que era brasileira até chegar aqui. Então, virou a música da viagem", explicou.

Terminamos a entrevista conversando sobre como a música sertaneja (country) brasileira é bem diferente do que é conhecido como country no resto do mundo, o que pode parecer um jeito besta de encerrar uma entrevista, mas para mim foi bem confortante.

Apesar de querer continuar a conversa, sabia que não podia atrapalhar sua preparação para os jogos que estavam prestes a começar, então agradeci muito e saí com aquela sensação boa que temos ao descobrir que nossos ídolos são "gente como a gente", e feliz por ter a oportunidade de contar um pouco sobre ela.

Enquanto isso, o Mid-Season Invitational continua. A Fase de Grupos no Rio de Janeiro já começou e decidirá os quatro times que passarão para a Fase Eliminatória. Você pode acompanhar sjokz e suas entrevistas pós-partidas na transmissão em inglês da Riot Games, ou quando a LCS EU voltar.

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