Entre um argentino e um finlandês, Totti quase deixou a Roma antes de virar lenda
Francesco Totti encerra neste domingo uma história de 25 temporadas com a camisa da Roma. Não confirma se o jogo com o Genoa será o último como profissional, mas certamente será o último com as cores que representou por um quarto de século. Período que poderia ter sido bem menor se não fosse por uma noite de fevereiro de 1997, quando seu futuro no clube era colocado em dúvida pelo técnico Carlos Bianchi.
O argentino, contratado após empilhar taças com o Vélez Sarsfield (três títulos argentinos, uma Libertadores e uma Copa Intercontinental vencida contra o Milan), não estava convencido de que Totti, então com 20 anos, era especial. Os minutos em campo eram limitados, e às vezes Totti não ia nem para o banco.
O sonho de Bianchi era levar para a Roma o finlandês Jari Litmanen, protagonista no Ajax. Sentindo-se desprezado, Totti passou a cogitar a saída do clube. Chegou a um acordo com a Sampdoria, e a transferência esteve a ponto de acontecer.
Até que Totti e Litmanen estiveram no mesmo campo. No dia 9 de fevereiro de 1997, a Roma recebeu Ajax e Borussia Mönchengladbach para um triangular amistoso, daqueles com jogos de 45 minutos. Bianchi queria mostrar a todos o que o clube teria a ganhar com Litmanen. Totti (assim como o presidente Franco Sensi) tinha outros planos.
"Uma pena que ontem, no Olímpico, apesar de preços absolutamente populares propostos por Sensi, tenham aparecido pouco mais de dez mil torcedores", conta a edição do dia seguinte da Gazzetta dello Sport. "Totti, para quem não soubesse, deu uma de fenômeno. É um jovenzinho com seus vícios. Mas as virtudes são tantas para segurá-lo forte. E quem sabe educá-lo".
No primeiro jogo, entre Ajax e Borussia, Litmanen justificou toda a badalação com um belo gol - o da vitória dos holandeses. Mas na vez da Roma enfrentar os alemães, Totti roubou a cena. Conta a Gazzetta: "Primeiro criou do nada a jogada do 2-0 (Totti-Moriero-Delvecchio, tudo muito bonito), com um lançamento próprio apenas dos craques. Depois, concluiu a obra dos 3-0 com um mini-show, com conclusão por cobertura, maradoneando".
Totti, ainda com a camisa 17 (a 10 era do uruguaio Fonseca), também balançou as redes na vitória por 2 a 1 sobre o Ajax. E ao final da noite, Sensi atestou, sem meias palavras: "Totti é melhor que Litmanen. Precisamos de alguém assim, ele não sairá da Roma".
Franco Zavaglia, na época empresário de Totti, afirmou em entrevistas à imprensa italiana que o encontro de Totti e Litmanen não foi casual. Sensi estava curioso com tanta insistência do agente, beirando a teimosia, em questionar nos bastidores o pouco aproveitamento do jovem atacante. "Por isso ele convidou o Ajax de Litmanen. A partir daquele momento, Totti virou Totti e começaram os problemas entre técnico e direção".
"Bianchi dizia que na Argentina encontraria centenas como Totti", revelou Zavaglia. "Eu disse a ele que, se era o caso, a Argentina ganharia tudo em nível mundial pelos 20 anos seguintes".
Totti, em entrevista reproduzida pelo site da Roma no ano passado, confirmou a queda de braço: "Aquele torneio foi no dia anterior à minha ida acertada para a Sampdoria. Mas os deuses de Roma se revelaram, e aquela noite se tornou mágica. Sensi interveio e disse que eu não ia a lugar nenhum. O negócio com a Samp melou. Bianchi disse: 'Totti ou eu', e Sensi respondeu 'Totti'. Foi ali que tudo mudou".
O argentino durou pouco. Em abril, após uma derrota para o Parma, com a Roma no meio da tabela, foi demitido. Zdenek Zeman chegou para a temporada 1997/98, e Totti se tornou titular indiscutível. Com a 10. E por mais vinte anos.
Fonte: Leonardo Bertozzi
Entre um argentino e um finlandês, Totti quase deixou a Roma antes de virar lenda
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.