Humilhação e desonra. Superliga foi sem nunca ter sido
O fato de que nunca rolará uma bola pela Superliga Europeia só deve surpreender os menos familiarizados com a dinâmica do futebol europeu nas últimas três décadas. As principais mudanças nas competições continentais aconteceram através de ameaças e chantagens dos grandes clubes, cientes da importância que têm para a valorização dos torneios e interesse do grande público.
Desta vez, porém, as coisas não saíram exatamente como os superclubes esperavam. O fiasco que fez com que a Superliga sobrevivesse por pouco mais de 48 horas, entre o comunicado oficial e a saída completa dos seis ingleses envolvidos, deixa seus organizadores com cara de tolos.
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Não é que eles saiam sem contrapartidas - boa parte das polêmicas reformas promovidas pela Uefa já havia sido acertada antes com os clubes e atendia seus interesses, como o aumento de jogos da Champions League a partir de 2024 e a garantia de duas vagas por coeficiente, o que praticamente impede que um time gigante fique de fora em um ano ruim.
Mas, desta vez, a urgência por mais dinheiro fez com que achassem que valeria a pena tentar esticar a corda ao máximo nas ameaças. Abraçaram uma promessa de bilhões, sem qualquer garantia prévia de contratos televisivos e comerciais - ou alguém acredita que eles ganhariam dinheiro de presente do banco investidor?
Os clubes da Superliga já imaginavam que haveria reações adversas, mas que o tempo trataria de fazer a poeira abaixar, e não restaria às instituições outra alternativa além de sentar à mesa e ouvir suas demandas.
Só não teve poeira: teve uma tempestade.
Klopp e Guardiola, técnicos de times envolvidos, reiterando a oposição ao torneio.
Delegação do Liverpool xingada na chegada ao campo do Leeds - e no dia seguinte os próprios jogadores do Reds repudiando em conjunto a ideia da Superliga.
Torcida do Chelsea em massa na porta do estádio para protestar contra o envolvimento do próprio clube e comemorando como um gol ao saber dos planos de desistência.
Mobilização de liga, federação, governo e até a família real na Inglaterra por uma reação enérgica, podendo envolver até criação de leis.
A arrogante entrevista de Florentino Pérez na noite de segunda-feira confirmou-se como uma grande piada, com mentiras evidentes, como a declaração de que o Paris Saint-Germain nunca havia sido procurado.
Obviamente foi não apenas procurado, mas também pressionado nos bastidores a fazer parte. Mas o PSG e seus donos têm interesses muito mais convergentes aos da Uefa, e agora tem ainda mais força política dentro da entidade.
Porque não se trata de apresentar a disputa como uma batalha maniqueísta do bem contra o mal. As organizações do futebol têm seus problemas e escândalos, e a fiscalização da comunidade do futebol precisa ser constante e vigilante, porque seus comandantes são eleitos para defender o interesse de todos, do grande ao pequeno.
Mas os superclubes precisavam saber que não são os únicos poderosos, e podem ser confrontados por jogadores, técnicos, torcedores e instituições.
A Uefa sabe que precisa deles, e o discurso do presidente Ceferin aos ingleses, quando dizia que "tudo bem admitir um erro", mostra isso. Mas eles não chegarão olhando de cima para baixo e terão de admitir que o trabalho é conjunto.
Hoje, seus representantes estão humilhados e se desculpando, como fez o dono do Liverpool, John Henry, em um vídeo publicado na manhã desta quarta. Andrea Agnelli, presidente da Juventus, acusado de traição, ficou com o filme queimado até com seus pares.
Sobrou para Florentino afundar junto com o barco e ouvir seus bajuladores jurando que ele venceu.
Humilhação e desonra. Superliga foi sem nunca ter sido
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