Um Brasil sem clima para a Copa
Por onde ando, não vejo bandeiras nos vidros nem fitinhas nas antenas. Tampouco camisas amarelas. Não me lembro de tamanha ausência de Copa nas ruas como nestes dias que antecedem ao Mundial da Rússia. São Paulo é mesmo a mais blasé das cidades, mas a esta altura esperava um pouco mais de verde-amarelo por aqui. Ela segue, entretanto, com o mesmo cinza de sempre, salpicado de um verde aqui, outro acolá.
Esperava mais porque esta Seleção tem jogado bem, erguida sob os pilares históricos que sustentam o que conhecemos como futebol brasileiro: jogadores técnicos, rápidos, que tocam no chão, driblam, buscam o gol. Tite é um cara querido, um líder que atrai simpatia mesmo com a superposição estafante que a publicidade impõe à sua imagem. O time tem jogadores e comissão técnica para fazer muito bonito na Rússia.
O futebol pode muito, mas não tudo. É impossível não relacionar esse distanciamento do torcedor à exaustão de Brasil em que todos nos encontramos. Seja qual for nossa inclinação política, estamos esgotados pelo buraco institucional em que nos metemos. Se pudéssemos, tiraríamos umas férias do país. Mas, para a maioria, isso é impossível. Então, vamos levando.
Para torcermos pela seleção brasileira, exigimos um jogo belo, que é nosso por direito adquirido. Mas o envolvimento pede também uma boa dose de sentimento de nação. E isso anda tão raro nos brasileiros quanto gasolina em posto dias atrás.
Pesa contra também a associação do time com a CBF, uma casa de mazelas, representante do que há de pior em nosso esporte e nossa sociedade. Seus principais dirigentes se sucedem em escândalos. Negociatas com patrocínio, direitos de transmissão e outras milongas desbotaram a camisa que leva o logo da entidade no lado esquerdo do peito. Torcer para essa gente? Dureza...
Alguma coisa creio que vá esquentar. Há os dois amistosos, a chegada à Rússia e a estreia, dia 17, como trunfos para aumentar a temperatura. Há o tom ufanista da imprensa festiva, que força o carro a pegar no tranco. Se o time jogar bem, vamos lembrar que é bacana torcer para o Brasil em Copa. Quem sabe não façamos um churrasco depois do jogo contra a Costa Rica, ou mesmo nas oitavas. Ou combinemos de ver juntos alguns jogos naquele bar com telão gigante. Talvez role. Não sei. Quem sabe?
Fonte: Maurício Barros
Um Brasil sem clima para a Copa
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.