Levante, o clube que foi campeão em plena Guerra Civil Espanhola e resgatou título do esquecimento
O Levante recebe o Athletic Bilbao nesta quinta-feira, às 17h (de Brasília), com transmissão do Fox Sports, em busca de sua primeira final de Copa do Rei na história. Para isso, precisa de um empate sem gols ou de qualquer vitória, depois de ter ficado no 1 a 1 no País Basco.
De qualquer forma, o clube de Valência já iguala sua melhor campanha no torneio, uma vez que o máximo que havia conseguido até esta edição foi chegar na semifinal em 1934-35, ocasião em que eliminou o Barcelona nas quartas de final por 3 a 0, antes de cair na fase seguinte para o Sabadell.
Sem títulos também do Campeonato Espanhol, o Levante tem as taças da segunda divisão em 2003–04 e 2016–17 como seus maiores feitos. Bem, isso aos olhos da Federação Espanhola. Afinal, o clube tem um troféu bastante especial conquistado em plena Guerra Civil Espanhola, e que curiosamente ficou por muito tempo no esquecimento.
“É um relato que pertence à Espanha que perdeu a guerra, e se sabe que os perdedores não escrevem a história”, diz Emilio Nadal, responsável pela área do patrimônio histórico do clube, em entrevista ao blog.
Em 1937, no meio da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), houve a realização da Copa Espanha Livre, que contou com times da região republicana do país, já que não havia mais competições nacionais em meio ao cenário de conflito.
Valencia e Levante, da Comunidade Valenciana, e Espanyol e Girona, da Catalunha, eram os participantes do torneio que contou com jogos de ida e volta entre todos os times. Os dois melhores decidiriam o título. O Barcelona, campeão mais cedo naquele ano da Liga Mediterrânea, fez uma excursão pela América e não participou.
A final da Copa Espanha Livre teve Valencia x Levante, mas ocorreu no Sarriá, em Barcelona, uma vez que, segundo relato publicado pelo jornal El País, o governo da república havia se instalado em Valência por conta do cenário de guerra em Madri, e, com receio de bombardeio, a decisão aconteceu na Catalunha, onde o Levante venceu por 1 a 0 com gol de Nieto, que na verdade era do Gimnástico, clube que se fundiria com o Levante FC em 1939 virando o atual Levante Unión Deportiva.
"Sempre se vendia uma ideia: o campo do Levante, que era o Campo de La Cruz, estava em um estado muito ruim. O Gimnástico tinha um campo bom, que era Vallejo, e poucos jogadores. Um colocava jogadores e outro colocava o campo. É uma história que sempre se contou e na realidade é real", resume Nadal, destacando que o Levante deu o nome ao time, enquanto o Gimnástico entrou com o as cores azul e grená.
Assista aos gols de Athletic Bilbao 1 x 1 Levante pela ida das semifinais da Copa do Rei 2020-21:
Ainda que a relação da Copa Espanha Livre com a Guerra Civil seja apenas pela questão cronológica, é inegável que tal contexto recaia sobre a conquista do Levante. Um bom exemplo atende pelo nome de Salvador Artigas, que era jogador da equipe na década de 30 e também um dos últimos aviadores da república durante o conflito no país. Inclusive, seu nome vai desaparecendo das escalações, como recorda o historiador do clube.
Menos de dois anos depois da conquista do então Levante FC, a Guerra Civil Espanhola chegaria ao fim com vitória dos nacionalistas liderados pelo ditador Francisco Franco, que governaria a Espanha até 1975. Em meio a tudo isso, a Copa Espanha Livre caiu em esquecimento.
“Desde 2000 começa a aparecer outra vez. Eu, por exemplo, publico um artigo em 2000 no jornal El Mundo na edição de Valência em que começamos a falar deste troféu. A partir daí, digamos que começa a tomar forma novamente a Copa. A princípio é um relato que ninguém conhecia, nem no próprio clube. Mas esse relato já faz parte do imaginário do Levante, o que já é uma conquista para nós (...) Qualquer torcedor do Levante conhece esta história”, conta Nadal, que já trabalhou no departamento de imprensa do clube e é autor do livro “Siempre tuyo, Levante UD”.
“Em 2007, houve uma reivindicação da Izquierda Unida, um partido político espanhol, no congresso dos deputados reconhecendo a validez dessa competição, digamos que é um segundo salto. Todo o congresso dos deputados, por unanimidade - e se sabe que é bastante difícil que haja uma unanimidade em um congresso -, aceitou a validade da Copa.”
Porém, não houve reconhecimento da Federação até o momento.
Um novo trunfo para o Levante são atas da Fifa de 1937 descobertas recentemente que indicam que durante a Guerra Civil Espanhola coexistiram duas federações. "Nossa reivindicação vai por aí, um pouco pelas atas da Fifa, que estão dando oficialidade a dois organismos, e sobretudo à figura de Ricardo Cabot, que é o primeiro grande executivo do futebol espanhol, que sempre está ligado a tudo que está ocorrendo nesses anos", contou Nadal, fazendo menção ao dirigente que representava a federação republicana e seu contato com a Fifa.
De qualquer forma, o resgate de uma memória importante na história do Levante e o reconhecimento popular já foram alcançados. “A Copa, por exemplo, foi parte de uma exposição muito ambiciosa em Valência do 80º aniversário de Valência capital da república”.
Depois de ter recuperado um dos maiores capítulos de sua história, agora o Levante espera escrever outro nesta quinta-feira.
Levante, o clube que foi campeão em plena Guerra Civil Espanhola e resgatou título do esquecimento
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