É interessante notar o posicionamento dos principais patrocinadores da FIFA após a repercussão das prisões de alguns dirigentes e empresários ligados a entidade
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Não resta dúvidas que estamos atravessando um momento histórico no futebol. Chega até a ser cômico que o grande responsável pelas mudanças que iremos ter seja um país que nunca deu a mínima atenção para o esporte mais popular do mundo. Porém, fica evidente que os EUA perceberam um detalhe importante: o futebol produz muito dinheiro e eles querem uma parte deste mercado.
Entre as primeiras consequências que observamos, além da briga pelo poder envolvendo FIFA e UEFA, são as notas oficiais de alguns patrocinadores da FIFA. Visa e Coca-Cola se pronunciaram logo após o caso exigindo mudanças e dizendo estarrecidas com o fato. Prometem rever seus patrocínios e seus apoios a ações da entidade.
A atual crise da FIFA mostra ao mundo algo que deveria ser tratado a tempo no esporte: Governança. Ou melhor, a falta de Governança. E este ponto que trás à tona, entre os mais variados temas, o relacionamento existente entre a entidade e seus principais patrocinadores.
Por um lado as empresas buscam associar suas marcas a FIFA (por exemplo) pelo retorno positivo que isso dá. Por outro as marcas devem estar preparadas para as consequências de ações negativas. As ações do dia 27 colocaram "gigantes" como Coca-Cola, VISA e Mc Donald´s, entre outras, no centro do furacão que tomou conta da organização que define os rumos do futebol mundial.
Atrelar a imagem de sua marca, e de seus produtos, a corrupção e à falta de governança da entidade, se tornou verdadeiro pesadelo para essas organizações que investem quantias astronômicas no esporte mais popular do planeta.
Arrastadas à crise pela FIFA, e por seus dirigentes "corruptos", dois dos principais patrocinadores da entidade, Coca-Cola e VISA, publicaram notas oficiais em que, de forma contundente, cobravam esclarecimentos e um posicionamento concreto de Joseph Blatter e seu staff sobre as acusações e prisões levadas a cabo pelo FBI. A sugestão implícita de que ele deve se retirar é clara.
A atitude dos dois patrocinadores da FIFA, dentro de um claro e emergencial plano de gerenciamento de crise, reflete uma clara estratégia para mostrar à comunidade mundial do esporte e aos consumidores de seus produtos que, de forma desesperada, "não compactuamos com as falcatruas desses senhores corruptos da FIFA".
Nesse verdadeiro "salve-se quem puder", Coca-Cola e VISA agem como se responsabilidade alguma tivessem sobre os desagradáveis acontecimentos ocorridos no quartel-general da entidade, em Zurique, na Suiça. Porém, será que isso é verdade?
Ao assinar um contrato de patrocínio, independente do que possa acontecer no futuro, os agentes envolvidos no acordo, patrocinadores e patrocinados, assumem conjuntamente o bônus e o ônus oriundos de tal contrato comercial.
É fácil administrar essa relação quando os gols saem em profusão, os estádios ficam lotados e, uma após outra, vivemos a "Copa das Copas".
Mas o que acontece quando o gol é contra?
O relacionamento patrocinado-patrocinador deixa as "páginas" de esporte e passa a ocupar espaço na editoria de polícia. A relação fica onerosa e pesada para quem financia o relacionamento e, por isso, julga não ter responsabilidade sobre o acordo.
O posicionamento de Coca-Cola e VISA, correto do ponto de vista técnico no gerenciamento da crise que ora se instaurou na relação de patrocínio com a FIFA, demonstra uma clara opção pelo caminho mais fácil na abordagem do problema. Porém, será que ninguém sabia de nada?
Empresas patrocinadoras estão acostumadas a jogar este jogo. Por vezes é mais fácil tapar os olhos e surfar no onda positiva do que adotar uma postura contundente antes do pior acontecer. Afinal, se eu não estiver lá meu concorrente estará. Isso é fato. E por que?
Porque não existe um código de ética que regulamente as relações entre patrocinadores e entidades esportivas. Um código que facilite esse tipo de postura, como se do problema não fizessem parte, das "gigantes" norte-americanas. Cobrar posicionamento da FIFA sobre as denúncias que, com toda a razão, caem sobre ela é fácil. Difícil é assumir a responsabilidade quando é parte integrante do escândalo.
O "salve-se quem puder" do momento atual da FIFA mostra a urgência da discussão e elaboração, para lá de urgente, de um documento que regulamente e traga, de forma cada vez mais clara e transparente, os alicerces básicos que devem nortear, dentro de princípios éticos, os limites e as responsabilidades das relações envolvendo entidades esportivas e seus patrocinadores.
As mudanças que todos nós queremos não podem ficar restritas a troca de pessoas no poder. Não basta tirar Blatter e colocar Ali bin Al Hussei e a turma da UEFA, liderada por Platini. É verdade que a UEFA está anos luz a frente da FIFA no que tange Governança, mas o jogo político é o mesmo. Platini tem seu nome relacionado ao esquema de corrupção da compra de votos do Catar e defende um Copa com mais seleções, por exemplo. O que precisamos é mais do que uma troca de poder. Nós precisamos de uma troca de valores e de princípios.
A elaboração de um código de ética no esporte, para as relações de patrocínio, é urgente e necessária.
Fonte: Fernando A. Fleury, blogueiro do ESPN.com.br e Ary Rocco, EEFE/USP e Uninove
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