Por Fernando Fleury e Anderson Dias
ESPN Brasil/UOLEduardo Baptista sempre foi vítima de questionamentos no Palmeiras
De modo geral, quando um técnico de futebol é despedido, as reações são previsíveis. Como a decisão se dá (em 99,8%) dos casos por conta de maus resultados, o quadro vai sempre na seguinte direção: os torcedores concordam (insatisfeitos com as derrotas, desclassificações, rebaixamentos...), a mídia discorda (cobrando planejamento e confiança numa ideia contínua de jogo) e os dirigentes tomam a decisão no centro deste cenário. No entanto, como saber qual a hora certa de mandar um técnica embora?
Não espere desta coluna um julgamento simples baseado no "discordo porque acho ruim" ou vice-versa. A ideia é demonstrar todo o quadro que se pinta até ser revelado, geralmente, ao presidente do clube, que decide. O caso recente de Eduardo Baptista no Palmeiras é extremamente interessante para adentramos neste contexto.
Após ser campeão brasileiro em 2016, o Verdão termina o ano sem seu treinador, Cuca, que alega questões pessoais e pede demissão. No mesmo ano, portanto, ainda antes do início da pré-temporada, o clube anuncia Eduardo Baptista como seu novo comandante. Embora tenham havido alguns questionamentos (por conta do "tamanho" do profissional para um clube como o Palmeiras), era inegável o bom trabalho do filho de Nelsinho à frente da Ponte Preta.
Com uma realidade econômica muito aquém dos grandes clubes, o time campineiro terminou o Campeonato Brasileiro na oitava colocação, à frente de equipes como São Paulo, Grêmio, Cruzeiro, Fluminense e Internacional, todos multicampeões e com orçamentos infinitamente superiores à Macaca. Além da boa campanha, a equipe dirigida por Baptista demonstrava organização, compactação e intensidade.
Eduardo estava credenciado também com um bom trabalho no Sport, onde foi campeão pernambucano e da Copa do Nordeste em 2014, quando sua equipe também chamou atenção por conta do futebol organizado e bem jogado. Portanto, a decisão da diretoria palmeirense em contratar o técnico estava embasada por bons trabalhos recentes.
Ao técnico, foi entregue um elenco que terminou o Brasileirão nove pontos à frente do segundo colocado (Santos) e reforçado. O excelente Gabriel Jesus e o pouco utilizado Roger Carvalho saíram, mas atletas de qualidade como Borja, Michel Bastos, Willian e Guerra chegaram, ampliando as opções e a força do já decantado melhor elenco do Brasil.
A temporada 2017 começa e, embora os resultados sejam satisfatórios, o futebol alviverde não decola. Como é de se esperar, por não ser um nome "grande" no mercado de técnicos, Eduardo ouve as primeiras cornetas quando perde para o rival Corinthians na quinta rodada do Paulistão, por 1 a 0.
Com três derrotas e quase 70% de aproveitamento, o Palmeiras vai às quartas de final e atropela o Novo Horizontino, com 3 a 1 fora de casa e 3 a 0 no Allianz Parque. Enquanto isso, na Libertadores, sofre em um grupo composto por Peñarol, Atlético Tucumán e Jorge Wilstermann. Apesar dos bons resultados (o Palmeiras é o primeiro colocado, com 10 pontos e está classificado à segunda fase), o time sofreu em todas as partidas, ganhando com gols no apagar das luzes e com um futebol pouco convincente.
De volta ao Estadual, o time enfrenta a Ponte Preta e é totalmente anulado na primeira partida das semifinais: 3 a 0 em Campinas, na pior partida do Palmeiras em 2017. A vitória por 1 a 0 na volta foi apenas uma forma de tentar se animar para a Libertadores, sem grandes ameaças aos campineiros.
Ao sofrer dois gols do Peñarol em Montevidéu no primeiro tempo, grande parte da torcida palmeirense já perdeu a paciência. Com alterações e novo espírito, o treinador conseguiu levar a equipe brasileira à virada histórica, com todas as cenas deprimentes que se sucederam. Num misto de alegria, alívio, pressão e insatisfação com todos os acontecimentos no Uruguai, Eduardo se enerva após o jogo e dá uma coletiva que também já entrou para a história. Revoltado, batendo na mesa e protestando contra alguns repórteres (alguns nem presentes ao local), subiu o tom e até agradou grande parte de alviverdes.
Uma semana depois, veio a derrota para o Jorge Wilstermann na Bolívia por 3 a 2, em outra partida fraca e então a decisão da diretoria palmeirense de sacar Eduardo para promover o retorno de Cuca.
Portanto, eis o cenário: Eduardo Baptista é jovem, mas vinha de dois trabalhos recentes com bom futebol e resultados destacáveis. Assumiu um elenco numeroso e qualificado, ponto que se torna uma faca de dois gumes, já que nesse contexto, bons jogadores vão ficar de fora dos 11 titulares em algum momento e podem criar problemas.
A performance do time em campo em 2017, de fato, não agradou (salvas algumas exceções, como o atropelamento por 3 a 0 sobre o São Paulo). No entanto, se o técnico priorizasse um jogo esteticamente mais agradável e ofensivo (automaticamente, com maior exposição), teria respaldo para continuar, já que a justificativa oficial para sua demissão foi justamente desempenho e não os números (que são bons, quase 70% de aproveitamento)?
Tendo Cuca no mercado a demissão se justifica? Ou não teria sido hora de justificar a vinda de Eduardo, dar-lhe mais tempo e solucionar alguns problemas pontuais? Vale lembrar que após ser eliminado na chamada Pré-Libertadores para o então desconhecido (entre os brasileiros) Tolima, o Corinthians decidiu manter Tite e o restante todos já sabem.
Eduardo tinha potencial pra fazer o Verdão atuar melhor e levantar taças? Todas essas perguntas e ponderações servem para tentar ilustrar o tamanho do abacaxi que chegou ao presidente e à diretoria de futebol alviverde, que diga-se, não respaldou seu então treinador em momentos de instabilidade. Se fosse um técnico "tarimbado", como Luxemburgo, a pressão seria a mesma?
A hora certa de demitir, fãs do esporte, é difícil definir.
O ponto que talvez precise de reflexão é: estamos preparados para novos técnicos no futebol brasileiro?
A paciência é nitidamente menor entre torcedores, dirigentes e mídia quando se contrata um profissional fora da "panela", o que dificulta o profissionalismo tão solicitado e necessário.
Voltando ao Palmeiras, a opção por Cuca é um tiro de segurança. E a última pergunta: se os resultados vierem, mas com baixo desempenho, qual será o discurso da diretoria?
Já passou da hora de discutirmos a postura dos jogadores em campo
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