O ‘engenheiro’ Vagner Mancini
A Chapecoense, em janeiro, começou o maior processo de reconstrução de um clube de futebol no Brasil. A tragédia que devastou a Arena Condá fez com que uma verdadeira força-tarefa fosse montada em Chapecó, a fim de resgatar um dos times mais tradicionais do sul do país, e que ganhou projeção intercontinental após a excelente campanha na Copa Sul-Americana e, sobretudo pela história que envolveu o acidente na Colômbia, em novembro do ano passado.
Para comandar este processo dentro de campo, a Chape escolheu Vagner Mancini. O treinador, que definiu o desafio como o maior de sua vida, ajudou a escolher nome por nome, redefiniu conceitos táticos, construiu um elenco e começou uma batalha que quase não dava folga aos alviverdes. Uma reconstrução que resultou, em curto prazo, no título catarinense e numa boa campanha na Copa Libertadores – a Chapecoense só não avançou ao mata-mata por conta de um erro da diretoria, que avalizou a escalação de um atleta que deveria cumprir suspensão. Diretoria essa que resolveu demitir Mancini após heroico empate por 3 a 3 com o Fluminense, no Rio de Janeiro. O técnico saiu do clube com 45 partidas oficiais em menos de sete meses de trabalho.
Não vou entrar nos méritos das escolhas da diretoria, pois o futebol brasileiro é repleto de dirigentes com a mesma linha de pensamento. Focar numa sequência de resultados e esquecer todo o processo que envolve a construção de uma equipe é algo comum – e equivocado – no nosso país. A impressão que ficou para todos que acompanharam a reconstrução da Chapecoense é que seu treinador estava cumprindo o que se esperava, já que a equipe catarinense não fez feio nas competições que disputou, além de sequer flertar com a zona de rebaixamento no Brasileiro – algo que, para o objetivo do projeto, é totalmente aceitável.
É justo e lícito discutir ideias de jogo, já que nenhum treinador é perfeito. A Chape, com Mancini, sofria muitos gols, é bem verdade. Porém, era natural que uma equipe totalmente nova oscilasse em busca do equilíbrio. Faltou paciência.
Vagner Mancini aceitou o desafio de treinar o Vitória. É óbvio que qualquer comparação com o projeto da Chapecoense será totalmente descabida, mas o rubro-negro baiano também vive um processo de reconstrução. Com presidente interino, diretor de futebol chegando ao clube esta semana, comissão técnica toda desfeita, jogadores sendo dispensados e o time na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, a missão é a mais ingrata possível. Às vezes, não é pecado imaginar o porquê de um profissional aceitar uma proposta tão arriscada, tendo em vista o período da temporada. Mancini parece ter colocado o lápis atrás da orelha, sacado uma prancheta cheia de projetos e encarnado um verdadeiro "engenheiro" em 2017.
No Vitória, espera-se o que Mancini não conseguiu dar segmento na Chapecoense. Arrumar a defesa rubro-negra, a pior do Brasileirão, é uma das grandes prioridades. Estancar a sangria defensiva é o ponto de partida para um time que precisa encontrar o equilíbrio para voltar a vencer. O ataque, que marcou 16 gols – dois a menos que o Santos, terceiro colocado, por exemplo – precisa trabalhar sem a necessidade de compensar o prejuízo que dá a retaguarda do time baiano.
O time do Vitória, convenhamos, não é tão ruim, apesar de ser mal montado. Mancini terá 11 opções para criação e ataque, mas apenas um volante capaz de atuar como um marcador no meio-campo, que é Fillipe Soutto – Willian Farias e José Welison se recuperam de lesões. É um desequilíbrio enorme, tendo em conta os investimentos feitos pelo clube em 2017, mas não é o suficiente para decretar falência técnica. O Vitória tem grupo para fazer muito mais do que tem feito na Série A. Este é o grande desafio do seu “novo” treinador.
O processo de remontagem começou na Chapecoense e pode terminar no Vitória. Com pesos diferentes, níveis emocionais incomparáveis, mas com a mesma essência. No difícil, voraz e traiçoeiro mundo do futebol brasileiro, Vagner Mancini resolveu assumir o papel de reconstrutor. Uma atitude tão arriscada quanto louvável.
Fonte: Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
O ‘engenheiro’ Vagner Mancini
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