Os ecos de Itaquera: do ‘bairrismo’ ao desabafo, méritos do Vitória... e do Corinthians
Ao final do jogo entre Corinthians e Vitória, quando o time baiano derrubou uma invencibilidade de 34 jogos da equipe paulista, a grande discussão ficou em torno da coletiva de Vagner Mancini. O técnico retrucou os argumentos de um jornalista que, ao tentar justificar o resultado, usou como argumento uma hipotética atuação ruim do time de Fábio Carille, se apegando aos números de posse de bola e finalizações. Mancini classificou como “bairrista” a postura do repórter e defendeu a igualdade de tratamento entre as equipes que não fazem parte do eixo Rio-São Paulo.
A discussão sobre bairrismo na imprensa esportiva é antiga. Muitos profissionais, talvez por conta da disparidade financeira entre os clubes do Sudeste e o restante dos times do país, acreditam que o resultado de uma partida, obrigatoriamente, precisa ser favorável ao mais rico. É inadmissível Corinthians e Flamengo perderem para o Vitória em suas casas, ainda mais quando o adversário está na zona de rebaixamento. O futebol, para muitos, segue a receita do basquete ou do automobilismo, certamente: é quase certo que quem tem mais investimento sairá vencedor de um confronto.
A arte de defender o que é seu também distorce fatos do jogo. Normalmente, é mais fácil apontar os erros do perdedor do que as virtudes do vencedor – e, por muitas vezes, ambos tiveram mais virtudes que defeitos. Essa defesa provoca fissuras nas relações entre as regiões do país, ao ponto de nordestinos, por exemplo, não aceitarem que seus conterrâneos elogiem ou até torçam por clubes de outra região, justamente por certa prepotência existente fora do Nordeste.
Ah! Sábado, em Itaquera, tivemos um jogo.
A estratégia do Vitória foi tentar deixar o Corinthians desconfortável em seu próprio campo. E como fazer isso? Dar a bola ao time de Carille. Os alvinegros, acostumados com um jogo reativo e rápida troca de passes, ficou com a posse da bola durante 65% do confronto. Além disso, Mancini negou todos os espaços possíveis ao time paulista, impedindo as fatais infiltrações dos meias na área defendida pelo goleiro Fernando Miguel. Uma estratégia arriscada, mas que deu certo. Num contra-ataque, o Vitória garantiu o resultado que queria.
A derrota em Itaquera não significa que o Corinthians jogou mal. Futebol também é um confronto de estratégias, e a rubro-negra foi mais eficiente. Não há demérito algum em perder uma partida em que seu adversário apresentou um plano de jogo quase perfeito. O time de Fábio Carille impôs ao Vitória o desafio de se superar técnica e taticamente – não foi o Corinthians que diminuiu o seu nível, e sim a equipe de Vagner Mancini que buscou, em 90 minutos, chegar ao nível alvinegro.
O desabafo do técnico do Vitória expõe novamente um bairrismo exagerado, mas também toca numa ferida aberta há um bom tempo na imprensa esportiva: precisamos evoluir nas análises, assim como o futebol evolui dentro e fora de campo. Conclusões superficiais, cheia de chavões, parciais, de cunho populista e baseada apenas em números só reforçam o quanto ainda estamos muito longe do ideal.
Fonte: Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
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