O marasmo das arenas (e estádios) brasileiros precisa ser discutido
A CBF anunciou recentemente que já a partir deste ano os clubes da série A do Campeonato Brasileiro não poderão mandar jogos fora de seus estados de origem. Com isso, Arena da Amazônia, em Manaus; Arena das Dunas, em Natal; Arena Pantanal, em Cuiabá; e Mané Garrincha, em Brasília, por meio de seus gestores, já demonstram preocupação e prometem protestos, pois os clubes locais não têm condições de pagar aluguel para atuar nesses estádios, tampouco alcançam uma média de público aceitável para que a conta comece a fechar minimamente.
A decisão da CBF é ruim para estas arenas, que ganham algum dinheiro recebendo partidas de clubes grandes de São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente. No entanto, o problema é muito mais amplo, complexo e de difícil solução. Se todas estas arenas dependem tão sensivelmente do mando esporádico de partidas de equipes distantes, o sinal vermelho já foi aceso há muito tempo.
Uma arena (ou estádio, como queiram) deve ser administrada como um empreendimento muito além de um mero campo com arquibancadas para receber jogos de futebol. Espaço para shows e eventos em geral, lojas, restaurantes, escolas, bares, museu, salão de festas, anfiteatro, camarotes, espaços vip, enfim, há uma infinidade de atividades que devem compor o dia a dia de um espaço como esses para que exista um mínimo equilíbrio financeiro.
Olhando para o exterior, a Amsterdam Arena, na Holanda, talvez seja o maior referencial nesta área. O local recebe eventos e atividades nos 365 dias do ano. Com custo de construção de aproximadamente R$ 300 milhões (inaugurada em 1996), o local tem atualmente lucros (não faturamento) superiores a R$ 80 milhões por ano, sendo que apenas 26% de sua receita vem de bilheteria, tour e museu, enquanto mais de 60% da renda da Amsterdam Arena vem de aluguéis (lojas, camarotes, escolas e mais uma infinidade de estabelecimentos, além de eventos, 58% sem nenhuma relação com o futebol).
O que os holandeses conseguiram nos mostra um caminho, mas não uma receita pronta. Um estádio tem altos custos de manutenção, portanto, antes de sua construção, é fundamental verificar a viabilidade financeira do empreendimento, como integrá-lo à região onde será construído, qual a vocação econômica, cultural, costumes e como esta arena pode ser um espaço comercial e de entretenimento absolutamente integrado ao local onde está instalada.
Neste quesito, os Estados Unidos também caminham muito bem, até porque os norte-americanos têm enraizada a cultura de aproveitar as arenas muito além de um palco esportivo, mas como um ponto que recebe desde o churrasco no estacionamento até a compra desenfreada de cerveja, lanches, pôsteres, materiais esportivos e produtos dos mais variados, além de eventos antes, durante e após o jogo em si.
Portanto, antes de qualquer justificativa simplória, é preciso admitir que o Brasil tem sérios problemas, principalmente nas arenas de Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal. Isso sem citar o imbróglio do abandonado Maracanã e a dívida estratosférica da Arena Corinthians. Meia dúzia de jogos do Campeonato Brasileiro estão longe de ser a solução.
O Corinthians realizou no último sábado (4/3) o "Esquenta da Fiel", com food trucks, cerveja, bandeirões, enfim, uma série de atrações além do jogo (início às 13 horas, com bola rolando só às 18h30) antes do clássico contra o Santos, ação que merece aplausos para a administração da Arena Corinthians e ao clube.
É preciso avançar, estudar, planejar e fazer com que esses espaços pertençam às suas regiões muito além do futebol.
O marasmo das arenas (e estádios) brasileiros precisa ser discutido
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