Time empresa: o paradigma do futebol brasileiro
Por Fernando Fleury e Anderson Dias
Que o futebol brasileiro respira por aparelhos e sobrevive por meio de pequenos sopros ninguém mais duvida. Relatórios de empresas como Itaú BBA, BDO e Armatore a tempos já sinalizam que existe um grande gargalo no modelo de gestão do esporte no País.
Assim, muitos veem no clube empresa a solução perfeita. Não compartilho dessa opinião, mas gosto de ver novos ventos soprarem. Explico: gestão não se resolve por meio do processo de transformação de um clube em empresa, mas por meio de mudança de cultura. Muitas empresas no Brasil e no mundo são tão mal gerenciadas quantos os clubes de futebol.
Claro que uma mudança drástica, como passar de um clube social para um clube empresa, abre uma grande possibilidade para mudança de cultura.
E é esse ponto que me faz querer ficar de olho nas mudanças vindas do Sul.
Não vamos falar de terceirização, prefiro tratar como profissionalização. É isso que um grupo de investidores propôs ao Figueirense. Liderado por Alex Bourgeois, o grupo conta também com Claudio Vernalha e Luis Gustavo Mesquita, que prometem uma mudança de paradigmas no modelo de gestão.
Ainda que tal feito da equipe catarinense seja encarado com desconfiança por boa parte de torcedores, da mídia e de muitos que acompanham futebol, vale ficar de olho e ver onde isso pode chegar e, quem sabe possa esse ser um importante passo para mudanças na filosofia do futebol brasileiro.
Trata-se de um projeto de 20 anos prorrogáveis por mais 15, sendo o novo grupo responsável direto pelo futebol do Figueira. Atualmente, o clube tem dívida de R$ 70 milhões e déficit mensal de R$ 500 mil. O novo grupo assume as pendências e deve investir cerca de R$ 20 milhões a curto prazo.
O que há de diferente do Figueirense para outras equipes brasileiras que tiveram parcerias e algumas iniciativas similares não é apenas o tempo. Por mais que o Conselho Deliberativo do Figueira tenha aprovado que o futebol seja administrado pelo grupo nas próximas duas décadas – e tempo é justamente o que não existe no futebol brasileiro – as mudanças mais profundas são oriundas da mudança na gestão.
O grupo promete uma administração profissional. Ou seja, mais do que pagar para as pessoas trabalharem, devemos ver no Figueira profissionais qualificados executando suas funções.
É preciso avaliar este ato do Figueirense muito além dos resultados dentro do campo. Claro que esse deve ser o foco de qualquer time de futebol, no entanto, devemos olhar com mais atenção a gestão como um todo, ou seja, padrões para contratações, demissões, definição de estilo de jogo, investimentos de acordo com a realidade econômica do clube, enfim, modernizar a administração do futebol brasileiro é algo urgente.
No geral, os clubes brasucas são instituições amadoras, comandadas por pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em gestão (muito menos em gestão esportiva) que são fiscalizadas por conselhos deliberativos também com as mesmas limitações e, pior, apaixonados pelas carteirinhas, vagas em estacionamento e benesses muitas vezes oferecidas para manutenção do status quo.
Nessa relação puramente política, os interesses esportivos, no geral, ficam relegados ao segundo plano. A eleição, reeleição e consequente troca de favores são as preocupações absolutas. Se a situação em campo se complica, as soluções são conhecidas: mudar o treinador ou contratar jogadores por valores muitas vezes irresponsáveis, descabidos para a realidade da instituição.
Justamente por tentar remar contra a maré é que o Figueirense merece os parabéns e também ser acompanhado de perto. Em 20 anos, esperamos, seus torcedores terão uma equipe mais sustentável economicamente, organizada e, claro, com resultados dentro e fora do campo. Afinal, qualquer boa gestão tem como foco o resultado e, no caso do futebol, boas práticas administrativas e a condução adequada do esporte, com um planejamento de curto, médio e longo prazo, têm tudo para dar certo.
Há pessoas capacitadas neste novo grupo e todas as condições para um grande trabalho. É importante que os novos dirigentes do Figueira tenham a real noção de que podem fazer história muito além dos muros do estádio Orlando Scarpelli.
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