Não é apenas futebol. Nunca foi...
Por Fernando Fleury e Anderson Dias
Vamos começar pelo fim: futebol é aquilo que jogamos entre amigos, que nossas filhas e filhos praticam na escola. É a pelada do final de semana, a diversão da praia. O jogo que assistimos no estádio, na TV, pelo qual torcemos por um time realmente não é apenas futebol.
É negócio. Já faz tempo, mas muitos, no Brasil, estão com dificuldades para enxergar esse fato.
Recentemente vêm circulando pela internet brincadeiras a respeito do torcedor nutella ou torcedor raiz, ou seja, o que alguns chamam de torcedor modinha e torcedores "de verdade". São aqueles que acreditam que o futebol precisa ser alimentado por polêmicas, que ganhar roubado é mais gostoso.
A cereja do bolo desses torcedores foi a matéria a respeito do torcedor do Angra dos Reis que viajou horas para ser o único torcedor no estádio a torcer pelo seu time. Quantos não vibraram e escreveram: "o futebol respira".
Muitos. E estão certos. Só se esqueceram de mencionar que a respiração é por aparelhos.
Em resumo, no último dia 7 de junho, a história curiosa de um torcedor do Tubarão (apelido do Angra dos Reis) ganhou as redes sociais. O fanático Daniel Oliveira, de 19 anos, viajou mais de sete horas (de Angra dos Reis até o Rio de Janeiro) e, como visitante, foi o único torcedor de seu time no estádio da Rua Bariri, testemunhando uma vitória por 4 a 0 sobre o Ceres, fazendo a festa sobre os outros 275 presentes (todos torcendo, claro, para a equipe mandante).
Ao invés de ficarmos indignados por ter apenas um torcedor adversário (275 do time da casa), numa arquibancada de jogo de várzea, mas que tecnicamente corresponde à terceira divisão do Campeonato Carioca, as pessoas vibravam. Como se fosse esse torcedor o último arauto do verdadeiro futebol.
Esse "sobrevivente" é a prova de que ali se jogava tudo, menos o que desejamos que seja o futebol. Sei que muitos começarão a criticar a postura da coluna, mas calma. Não quero faltar com respeito aos times da terceira divisão do carioca, mas temos que pensar do ponto de vista da Gestão do Esporte se devemos tratar essa divisão como componente do futebol profissional.
Afinal, quantos não reclamam que os estádios estão vazios nos campeonatos principais? Por que é bonito um torcedor, num jogo da terceira divisão, mas é feio 1 mil num jogo da primeira? Ou esses 1 mil também não se esforçaram para ir ao estádio?
Eu até entendo o ódio ao futebol moderno por parte de alguns. Mas, não compreendo quando esses mesmos "alguns" idolatram a final da Champions League e que não param de reclamar que o futebol brasileiro nunca terá uma festa como a de lá.
Verdade! Será difícil. Precisamos, antes, definir o que queremos:
- O futebol nutella ou o futebol raiz?
O problema do futebol brasileiro é que realmente estamos tratando-o como uma grande pelada. Já faz tempo. E está na hora de gerirmos e administrá-lo como um produto importante, grandioso, com todas as suas peculiaridades (e não são poucas).
Não, não estou dizendo que o futebol deve ser feito para um público x ou y, mas que ele deve ser gerenciado com um negócio. E, com isso, permitir ao clube o melhor custo benefício possível. Isso envolve a parte financeira e a parte técnica (time).
Tratemos o futebol como pelada e os torcedores serão tratados sempre como gado. Se queremos ser tratados como consumidores, está na hora de ver o futebol como produto.
Não é apenas futebol. Nunca foi...
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