Para que time você torce?
É comum em mesas de bar a velha discussão a respeito do time que cada jornalista torce. Mais comum ainda é a boa desculpa de citar algum time de uma cidade remota. Sempre me pareceu que os jornalistas, em geral, não gostam muito de dizer seu time e até acham que tal informação é irrelevante em sua atividade profissional.
Confesso que concordo com eles. Cada um torce para quem quer.
Vivemos um período em que muitos torcedores pedem a profissionalização da gestão de seus times. Mas será que estamos preparados para isso?
Recentemente li um texto em que um jornalista (realmente não me lembro quem) indagava o porque de um torcedor do flamengo querer ser CEO num time paulista. Se fosse conversa de mesa de bar eu até entenderia, mas me surpreende quando vejo algum jornalista escrevendo que fulano de tal, que torce para o time X, quer trabalhar no time Y.
O futebol brasileiro e sul-americano ainda sofre de um mal difícil de ser justificado: o de julgar, sempre negativamente, quem torce para um time rival. Principalmente quando se tratam de dirigentes e funcionários para o clube pelo qual se torce. Chovem na internet comentários maliciosos sobre funcionários que torcem para outras agremiações.
Seu time perdeu? Hora perfeita para lembrar do cara do marketing que torce pelo outro, do diretor que em 1983 foi visto com uma camisa daquela cor "proibida" ou para maldizer qualquer envolvimento com determinados clubes. Tudo muitas vezes para acobertar uma atuação ruim, um dia em que atletas e comissão técnica foram superados pelo adversário.
Em um universo que movimenta bilhões de dólares, é de se espantar que o simples fato de vestir uma camisa diferente inviabilize a contratação e permanência de profissionais, muitas vezes, brilhantes. E aqui abro parênteses para contar uma história. Anos atrás levei um grupo de estudantes de mestrado para uma temporada de estudos nos EUA. Entre as diversas atividades realizamos uma visita técnica ao Red Sox, tradicional time de baseball.
Fomos recebidos pelo Vice Presidente de Marketing e pudemos trocar excelentes ideias a respeito da estrutura que o time possui para que o marketing possa exercer suas atividades. No meio da conversa perguntei como ele via o fato de torcedores de outros times trabalharem no Red Sox. Expliquei que isso era algo que mexia bastante com o torcedor no Brasil.
A resposta dele foi me apresentar um de seus gerentes. Pasmem: torcedor fanático do Yankes, maior rival do Red Sox.
Sempre peço para meus alunos pensarem no seguinte: você recusaria um emprego num time rival ao seu? E caso aceitasse você cometeria um erro proposital para ajudar seu time de coração e se prejudicar profissionalmente?
A profissionalização é uma necessidade urgente do esporte nacional. Portanto, se há uma vaga a ser preenchida, que seja pelo melhor nome para aquela função. Quero ver grandes CEOs de multinacionais sendo contratados para gerenciar nossos times. Quero os grandes nomes do mercado a frente dos departamentos de marketing, finanças e outros.
Em alguns casos, não torcer para a equipe onde se atua profissionalmente pode ser positivo. Imaginemos um diretor financeiro, por exemplo. Seu clube apresenta graves problemas financeiros, enquanto o time precisa desesperadamente contratar um atleta para determinada deficiência do elenco. O torcedor, nesse caso, priorizaria a vinda do jogador, enquanto o profissional, com olhar técnico, vai cuidar da saúde financeira do clube, ou pelo menos, recomendar tal opção a quem vai decidir (geralmente, o presidente).
Desde que o profissional em questão não permita que a paixão impacte em seu trabalho, qual é o problema? Ainda há quem acredite que uma pessoa devidamente selecionada e contratada vai trabalhar para ver sua empresa (no caso, clube) se dar mal? E a credibilidade junto ao mercado? E o salário recebido, como justificar?
Lamentável também é perceber que não só torcedores, mas também uma parte da mídia esportiva cai nesse lugar comum. A mesma mídia que cobra profissionalismo de dirigentes e clubes e, em sua esmagadora maioria, é composta por torcedores apaixonados que se julgam imparciais para opinar e informar sobre qualquer agremiação.
Como em toda instituição séria, trabalhadores devem ser contratados de acordo com sua competência, experiência e sucesso comprovado. Assim como acontece com os jogadores. Ou achamos que todos os atletas do seu clube são torcedores como nós?
Para que time você torce?
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.